Célia no ateliê: vontade de se formalizar não falta, mas quantidade de encargos sociais e tributos assustam
Os números assustam, ainda mais quando se percebe que, a despeito de políticas públicas alardeadas para a melhora do cenário microeconômico, as estatísticas desfavoráveis só aumentam. Para se ter uma idéia, em relação à primeira pesquisa, realizada em 1997, o crescimento das informais foi de 9%, enquanto a quantidade de novos negócios subiu 10%.
Embora o trabalho informal fique fora das estatísticas nacionais, o setor emprega mais de 13, 8 milhões de pessoas, o que causa forte impacto na economia.
Autônomos – Em 2003, a maioria das empresas informais (88%) na verdade pertenciam a trabalhadores por conta própria. Apenas 12% eram de pequenos empregadores. São pessoas como a artesã Célia Regina Maida, que largou um emprego estável como analista de sistemas, com todos os benefícios trabalhistas, para se dedicar a uma vocação que descobriu um pouco mais tarde: o trabalho manual.
Além de produzir suas próprias peças em madeira, com a técnica de decoupage, Célia também ministra aulas de pintura em um ateliê e na casa de uma aluna. Todas as atividades de maneira informal. Ela não possui registro municipal, nem paga impostos ou utiliza serviços de contador. “No ateliê, sou professora e recebo uma porcentagem da mensalidade. Assim, quem cuida da parte formal são os proprietários do espaço, que apenas me repassam o pagamento. Quanto aos outros trabalhos, uso o próprio espaço de casa para fazê-lo e também não tenho empresa constituída. Mas vontade não falta”, diz.
Desde que passou a se dedicar a essa área, a artesã diz ter vontade de se formalizar. Só não fez isso ainda porque os encargos são muito altos. “Claro que é melhor ter um espaço só para os trabalhos. Mas, além das despesas com o aluguel de um lugar bacana, há uma série de outros encargos que acompanham: impostos, contratação de ao menos um funcionário e de um contador são apenas alguns. Isso sem falar na parte de encargos tributários e fiscais. Só de pensar, desanima um pouco”, afirma Célia.
Direto de casa – Assim como a artesã, 27% dos profissionais informais atuam dentro da própria casa. Outros 65% dos empreendimentos pesquisados ficam fora do domicílio e 8% exercem suas atividades nas duas situações.
Patrícia Büll