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É hora de abastecer a loja para o Natal

Guarulhos, 20 de setembro de 2004

Os lojistas devem ter cautela com as compras para o final do ano. A alta de 0,25 pontos percentuais na taxa básica de juros (Selic) foi pequena, porém afetou psicologicamente o consumidor. Além disso, as próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central podem levar a novos aumentos na Selic e, portanto, diminuir as intenções de compras a prazo para o Natal.

Analistas ouvidos pelo Diário do Comércio , recomendam aos comerciantes que não se empolguem demais nas compras para evitar estoques encalhados. Por outro lado, modéstia demais também pode atrapalhar, porque as expectativas continuam sendo de crescimento sobre 2003.

Na opinião do economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Emílio Alfieri, a partir de agora, tudo ficou incerto para a economia. “Historicamente, quando o Banco Central inicia um processo de alta na taxa básica de juros, ela nunca fica menor que quatro pontos”, explica. “Mas, mesmo que ela suba apenas 1,5 pontos percentuais, isso significa uma taxa de juros no Natal de 17,5%, ante os 16,5% de dezembro do ano passado”, diz Alfieri.

A taxa atual já é considerada um absurdo por todos os analistas. O aumento deste mês e a possibilidade de novas altas, na verdade, afeta a economia do País mais psicologicamente que economicamente. Isso se traduz em condições mais difíceis para os comerciantes, o que pode significar a volta de um Natal de lembrancinhas.

Expectativa – Mas, por enquanto, as projeções ainda não são tão pessimistas. A Associação dos Lojistas de Shopping (Alshop) prevê um crescimento nominal (descontada a inflação) de 14% ou 15%, e 7% em termos reais para o último trimestre do ano.

Para dezembro, espera-se um aumento de 22% sobre 2003. “Fizemos uma pesquisa e descobrimos que os lojistas estão animados”, diz o presidente da Alshop, Nabil Sahyon.

O varejo de rua, representado pelo presidente do Sindicato dos Lojistas, Ruy Pedro de Moraes Nazarian, também continua com boas perspectivas para o último trimestre de 2004: em torno de 5% a 7% de aumento real. “Para este final de ano, acreditamos que o ticket médio será muito similar ao de 2003. O crescimento se dará pelo aumento no número de consumidores, devido à melhora na renda do brasileiro”, acredita Nazarian.

Produtos – Se as previsões se mantiverem e os juros não abalarem mais os consumidores haverá uma procura pelos artigos de vestuário, calçados e bens duráveis. “Se a temperatura continuar subindo, bíquinis e moda praia também farão muito sucesso”, imagina a consultora de varejo, Emília Guan. Aliás, afirma ela, “a moda está em moda e esse segmento continua crescendo”. Além deles, os celulares e produtos eletro-eletrônicos continuarão as vedetes dos presentes natalinos.

Para o Dia das Crianças, também importante neste último trimestre do ano, mantém-se as mesmas proporções de crescimento, entre 5% e 7%, mas somente para o setor de brinquedos.

Os preços de todos os produtos, segundo o Sindicato dos Lojistas, estarão levemente acima dos do ano passado, algo em torno de 3% a 5%.

Ano bom – Para o setor como um todo, 2004 pode ser considerado bom. Mesmo que as vendas diminuam nos próximos três meses, o ano não fechará negativo. “Devemos ter crescimento, embora ele deva ser menor que a média do resto do ano”, afirma Alfieri.

As vendas a prazo, medidas pelo SCPC, por exemplo, subiram 7,6% no acumulado de janeiro a agosto. A tendência agora é que elas continuem em alta, mas abaixo dessa média.

Já as vendas a vista, medidas pelo Usecheque, ainda dependem da recuperação da renda e do emprego. Na verdade, apesar desses dois indicadores estarem subindo, a alta ainda não recuperou as perdas de cerca de 12% na renda do trabalhador ocorridas no ano passado, explica Alfieri.

O fato é que agora o patamar de comparação mudou por dois fatores: a partir de outubro de 2003 começou a recuperação do consumo e os juros estão mais altos. Então, explicam os analistas, não se pode projetar os crescimentos tomando como base o que aconteceu nos últimos meses.

Fernanda Pressinott/Estela Cangerana