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O conector

Guarulhos, 05 de setembro de 2017

A intersecção entre Governo, Empresas (setor produtivo) e a Academia não é um debate recente, no entanto, ainda existe uma falta de aproximação entre eles. A abordagem da Hélice Tríplice, desenvolvida por Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff, é baseada na perspectiva da Universidade como indutora das relações com as Empresas (setor produtivo de bens e serviços) e o Governo (setor regulador e fomentador da atividade econômica), visando à produção de novos conhecimentos, a inovação tecnológica e ao desenvolvimento econômico.

Hoje, trago uma reflexão de que a Universidade, NÃO possui o DNA para servir como ponto de contato e conectar as partes, portanto, é necessário que tenhamos organizações que façam esta integração. Acredito que as Agências de Inovação e Promoção do Desenvolvimento, podem fazer este papel. CONECTAR as instituições e desenvolver INTELIGÊNCIA e ESTRATÉGIA para aplicar ao desenvolvimento local.

O Governo do Estado de SP, através da Lei Paulista de Inovação 1049 de 2008, busca incentivar as instituições a participar do processo de inovação tecnológica. O problema que enfrentamos, é a falta de um ecossistema COLABORATIVO, onde as instituições, incluindo empresas concorrentes, trabalhem juntas para, de fato, agregar valor e somar esforços, no fomento de tecnologia e inovação para a promoção do desenvolvimento.

Precisamos avaliar o custo de oportunidade de cada região, a partir do ecossistema já existente em cada cidade e fomentar o crescimento, conforme demanda. É necessário, reconhecer alguns indicadores fundamentais para fomentar o ambiente de negócios.

Vamos aos indicadores:

1- Governo:

– Políticas públicas de incentivo à pesquisa e inovação;
– Políticas de desoneração e estímulo a investimentos;
– Infraestrutura e características logísticas locais;
– Identidade local (conhecer seus diferenciais, pontos fortes e fracos);
– Automação de tarefas repetitivas e desburocratização de procedimentos para maior eficiência;
– Grau de cultura colaborativa e pensamento horizontal;
– Eficácia do planejamento urbano e regras claras para uso e ocupação do solo
– Custo de ocupação para atividades econômicas e para habitação;
– Objetividade e celeridade no licenciamento de atividades;
– Exercício responsável e transparente do poder de polícia;
– Mobilidade e segurança;

2- Academia:

– Número de instituições de ensino técnico e superior;
– Principais cursos em relação com a realidade econômica local;
– Número de alunos matriculados e vagas existentes;
– Número de mestres e doutores;
– Produção acadêmica em geral;
– Produção acadêmica com potencial de inovação (viés produtivo);

3- Empresas:

– Vocações econômicas regionais;
– Setores econômicos mais relevantes da região;
– Número de empresas por setor;
– Empresas dentro da mesma cadeia produtiva;
– Número de empregos gerados por setor;
– Salário médio;
– Grau de internacionalização da economia regional;
– Diversidade de setores produtivos;

Para exemplificar, gostaria de mencionar a nossa cidade de Guarulhos, onde tenho a honra de estar como Secretário de Desenvolvimento Econômico, Tecnológico e Inovação. Temos um parque industrial bastante forte e diversificado, mas com algumas características que podem e devem ser potencializadas. Especialmente na indústria de base, precisamos fomentar o desenvolvimento de tecnologias para automação e eficiência de produção. Contamos com a forte presença da indústria farmacêutica e farmoquímica, onde podemos contribuir fortemente com a formação de mão de obra e o desenvolvimento de pesquisa e tecnologia em Biotech e Medtech. A presença do maior aeroporto da América do Sul, permitiu o crescimento da indústria de transporte e logística de forma orgânica, mas não contamos com uma integração desta indústria, seja com a cidade ou com as universidades.

Os pontos citados acima mostram o quanto a livre iniciativa e o empreendedorismo são capazes de desenvolver uma cidade e região. O fato é que a falta de um CONECTOR desta livre iniciativa com o Governo e com a Academia enfraquece o ecossistema. A prova disso é o número de mestres e doutores que temos nas Academias em áreas que não possuem sinergia com a indústria local, além da falta de políticas públicas especificas a esta realidade. Não estou terceirizando a culpa, estou apenas reconhecendo a nossa fraqueza e evidenciando a oportunidade que temos de construir um grande legado.

Assim como Guarulhos, muitas outras cidades possuem a mesma oportunidade para fomentar e desenvolver ecossistemas de tecnologia e inovação e, para isso, sugiro que entendam quem será o CONECTOR que deverá ter a iniciativa de fortalecer as instituições atendendo às demandas existentes.

O desenvolvimento do Brasil, passa pelo fomento à TECNOLOGIA e INOVAÇÃO e o fortalecimento dos Estados e Municípios. O fomento à pesquisa, a integração de empresas de uma mesma indústria, a sintonia das universidades com as necessidades empresariais locais e políticas públicas regionais são essenciais para o nosso futuro.

Eu acredito no Brasil, em São Paulo e na minha querida Guarulhos. Vamos juntos!

PS: Deverão surgir muitos CONECTORES nos próximos anos…#ficaadica

Rodrigo Barros é empreendedor, escritor, palestrante e secretário de Desenvolvimento Econômico, Tecnológico e Inovação na cidade de Guarulhos. Foi o primeiro presidente do Núcleo de Jovens Empreendedores da ACE-Guarulhos