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Classes A e B jogam as compras do mês no cartão

Guarulhos, 05 de setembro de 2012

Com as novas configurações de camadas sociais, o comportamento do consumidor tem mudado. Mais de dois milhões de famílias  passaram a usar o cartão de crédito para pagar  as compras “do mês”, o que inclui alimentos, bebidas e produtos de higiene e limpeza. E para a surpresa do varejo, as classes A e B são as que mais utilizaram o meio de pagamento para realizar esse tipo de compra. No primeiro trimestre de 2012 o volume de operações dos consumidores dessa faixa de renda cresceu 62% ante igual período de 2011, quando ficou em 57%, segundo  levantamento realizado pela Kantar Wordpanel.

O problema, segundo o professor de finanças da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Sílvio Paixão, é que esse resultado pode  sinalizar que esse consumidor tem feito uso do cartão  para complementar a renda e não apenas para acumular pontos em programas de fidelidade, milhagem ou de compras de planos de pr odutos.  “As pessoas cometem um erro terrível de se deixarem levar pela facilidade de usar o cartão”, afirmou ele.
 
Poder de compra – As classes altas estão perdendo renda, por perda ou recolocação em outro emprego, ou por terem se endividado por qualquer outro motivo, por exemplo, em um financiamento de imóvel. “Com isso parte da sua renda disponível ficou  comprometida e diminuiu, mas essas pessoas continuam gastando na mesma intensidade para manter o padrão de vida. Ou seja, mesmo sendo de um nível diferente, percebe-se o uso errado do cartão de crédito”, destacou.
 
A pesquisa “Painel Nacional de Consumidores” da Kantar mostrou  ainda que, de modo geral, o total desembolsado em compras efetuadas com cartão de crédito cresceu 24% para aquisição desses produtos  no primeiro trimestre deste ano em comparação a igual período de 2011. O uso desse meio de pagamento também aumentou dois pontos percentuais, na par ticipação no total de compras realizadas, passando de 12% para 14%. Os dois pontos substituem o uso do cheque, tíquete e outras formas de pagamento a prazo que, juntas, tiveram queda de 15% para 13% no período de dois anos. 
 
Descontrole – “Seja para manter o padrão ou para te r vantagens (como programas de fidelidade), isso mostra que, usar o cartão de crédito para fazer compras do mês significa que realmente se está entrando na categoria de descontrole financeiro – o que causa níveis de atraso significativos, além de dificultar o pagamento. Tudo isso reflete nos índices gerais de inadimplência”, alertou.
 
De modo geral, Paixão explica que, antes de usar o cartão de crédito, o importante é saber que ele só deve ser usado se a pessoa tiver certeza que pode pagar a fatura, além de jamais entrar no rotativo, que é “absolutamente impagável”.  “O apelo para gastar é muito grande. O segredo é saber como gastar, além de conhecer o s seus limites”, completou o especialista. 
 
Outras classes – Presente em 39% das opções de pa gamentos dos núcleos familiares brasileiros no primeiro trimestre de 2012, em outra frente, o uso do cartão de crédito diminuiu em 3% nas camadas D e E no período analisado, revelou  o levantamento da Kantar. No momento, o bolso dessas camadas pode estar mais “saudável” que o das classes mais altas. Já o gasto médio com cartão de crédito também aumentou, de R$ 229,47, no primeiro trimestre de 2011, para R$ 273,96 em igual período de 2012 – uma alta de 19%. Por outro lado, segundo a pesquisa, apesar de os gastos médios com cartão de débito também registrarem alta de 17% no período, os gastos com o cartão de crédito ficaram 50% mais altos do que nos gastos com cartão de débito.