Notícias

IBGE vai às casas dos guarulhenses saber o que consomem

Guarulhos, 19 de maio de 2008

A família do vendedor Paulo Henrique Boscatto, de 40 anos, vive com uma renda média mensal de aproximadamente R$ 4.000,00, que pode aumentar ou decrescer dependendo dos negócios fechados em determinado mês. Trabalhando a maior parte do tempo em casa, assim como sua esposa Eliane, a família de Paulo possui gastos fixos que ultrapassam os R$ 2.400,00 ao mês, a maior parte com combustível (R$ 500), mercado (R$ 400), plano de saúde (R$ 400) e com o condomínio onde mora (R$ 360), em um bairro de alto padrão de Guarulhos.

A família dele pode ser uma das 65 mil que receberão funcionários na maior pesquisa de orçamento familiar realizada no país, a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), realizada durante um ano inteiro pela quinta vez na história do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No levantamento, a entidade pretende pesquisar todos os gastos de determinada família durante o mês, além de tomar conhecimento de quais são os eletrodomésticos presentes nas casas dos brasileiros, algo que a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad), também do IBGE, já faz, mas sem a mesma abrangência, ou seja, questiona o morador apenas sobre determinados itens.

A POF deverá ser encerrada em abril ou maio do ano que vem. Os dados, contudo, demorarão mais para ser compilados, explica a coordenadora regional da pesquisa Rosemary Utida. “Serão visitadas famílias de todas as classes sociais, em áreas urbanas e rurais de todos os Estados brasileiros. Esta é, portanto, a pesquisa mais importante em termos de coleta de dados e abrangência geográfica do país”, define. O resultado do estudo será divulgado apenas no final de 2009. “A pesquisa é a base de tudo. Sem dados, não se pode fazer nada em qualquer setor da economia”, concorda Boscatto.

As visitas começarão na próxima segunda-feira, 19, incluindo lares de Guarulhos. No Estado de São Paulo, serão 4.137 famílias pesquisadas, mas o IBGE não divulgou quantas no município. A idéia do instituto é destacar seus funcionários para passar nove dias visitando as famílias escolhidas, um formato bem diferente de outros estudos, como o Pnad e o Censo, no qual geralmente é feita uma visita de meia hora, em média.

“Vamos também fazer estudos sobre as condições de saúde das pessoas, medindo seu peso e altura, comparando com o tipo de alimentação que elas possuem. Pediremos aos maiores de 10 anos da casa que marquem, em dois dias consecutivos, tudo o que comeram desde o momento em quer acordaram até quando foram dormir”, diz a coordenadora. As informações serão passadas para o governo federal que, com dados mais completos, tem uma base mais eficiente para analisar as condições de vida do brasileiro.

Os pesquisadores do IBGE descobrirão diversas famílias como a de Cleonice Silva, 28, moradora do Jardim Presidente Dutra, que vive de “bicos” desde o final do ano passado com o marido Neuzito. Em um mês de sorte, conseguem tirar apenas R$ 400, que utilizam basicamente para comprar alimentação para o filho Rodolfo e para o aposentado Luís, pai de Neuzito, que mora na casa.

“Como a escola e os materiais são pagos pelo Estado, além da Saúde, temos despesas somente com alimentação. Contudo, não podemos fazer nada mais do que isso”, diz Cleonice, que espera o resultado de uma entrevista de emprego que fez durante a semana para poder enfim ver sua renda aumentar um pouco, o que não acontece há quase um ano. “Além da alimentação, gasto dinheiro apenas com o dentista do meu filho, que tem de usar aparelho, mas não compro um eletrodoméstico há algum tempo, como você pode ver”. A casa de Cleonice possui poucos – e nem tão novos – eletroeletrônicos.

A Pesquisa de Orçamento Familiar terá um investimento de R$ 23 milhões, com R$ 9,89 milhões custeados através de parcerias com o Banco Mundial e o Ministério da Saúde. No total, participarão do projeto 750 coordenadores e a quantidade de visitas nos Estados não se baseou apenas no número de pessoas, mas também em variáveis como a pobreza da região e sua posição geográfica. O Estado com o maior número de domicílios visitados é Minas Gerais, com 5.982, seguido do Espírito Santo (4.385), São Paulo (4.137) e Bahia (3.465).

O IBGE realizou pela primeira vez a POF em 1974 e deu prosseguimento em 1988, 1996 e 2003. Há cinco anos, o índice de recusa das famílias ficou em apenas 3%, número explicado, segundo o próprio instituto, pelo investimento no treinamento dos pesquisadores, que podem se adequar à rotina dos pesquisados.

“A pesquisa dará subsídios para um projeto do IBGE que prevê a criação de contas satélites de saúde, turismo e cultura de um modo geral, além da atualização da cesta de produtos dos Índices de Preços ao Consumidor medidos pela instituição”, explica Utida. As contas satélite são uma extensão do Sistema de Contas Nacionais (SCN) e permitem o cruzamento de dados estatísticos, classificações e métodos de análise que ampliam o modelo geral do SCN.