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Como será o futuro?

Guarulhos, 25 de junho de 2007

Pensando na situação brasileira, lembrei-me de uma famosa canção de Doris Day, O que será, será , versando que o “futuro não se pode prever” e acrescentando que “o que tiver de ser, será”, uma posição conformista em relação ao porvir, como se não pudéssemos agir para moldar nossos destinos.

Pensei isso ao constatar a passividade com que o povo brasileiro vem assistindo aos graves acontecimentos que afetam a vida nacional, (aceitando que “o que tiver que ser, será”), como se nada pudéssemos fazer para deter a decomposição que se observa no País.

Assim, a violência contra o cidadão (praticada pelo crime organizado, que domina “territórios” nos quais o Estado não entra e os criminosos fazem as leis e executam as punições) e contra as instituições (promovida por movimentos autodenominados “sociais”, como as invasões de terras, prédios públicos e privados, rodovias e universidades, para “impor” suas reivindicações), parece ser assimilada como normal pela sociedade. Poucas são as vozes que protestam contra essas barbaridades e os governantes não agem, nem preventivamente nem para punir os responsáveis.

As denúncias de corrupção envolvendo membros do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, empresários, profissionais liberais e autoridades policiais, se repetem com tanta freqüência que não mais causam comoção ou mobilização da sociedade. O pior é que a corrupção não é punida e o cidadão, além de ter de aceitar tudo isso passivamente, acaba considerando que a conduta criminosa é regra geral em todos segmentos da sociedade, concluindo errôneamente que não vale a pena lutar para mudar esse estado de coisas.

A omissão das autoridades e a ausência de punições faz com que se desenvolva um sentimento de afrouxamento moral, levando-nos a considerar como regra geral que não vale a pena ser honesto – ou como dizia Rui Barbosa, a ter vergonha de ser honesto -, o que contamina não apenas as relações da sociedade com o setor público, como, também, a esfera privada, onde levar vantagem em tudo tornou-se mais que um antigo apelo publicitário.

Enquanto isso, o Legislativo se omite de sua função precípua de aprimorar as instituições, modernizando a legislação, tanto para permitir punição mais rápida dos atos de violência e corrupção, como, principalmente, através da realização das reformas fundamentais que o País necessita, para propiciar o crescimento econômico e o desenvolvimento político e social do país, oferecendo à juventude perspectivas de futuro pelo estudo e pelo trabalho, retirando-a da influência negativa e dos atrativos oferecidos pelo mundo das drogas e do crime.

Existe o risco de que a falta de segurança pessoal e do patrimônio, deteriorando o ambiente moral, possam criar um clima propício ao surgimento de um salvador da Pátria , que, a pretexto de restaurar a ordem e os costumes, e garantir a segurança dos cidadãos e das propriedades, busque concentrar todos poderes em suas mãos, repetindo experiências do passado que não deixaram saudades.

É necessário e urgente que a parcela lúcida da sociedade -que estou certo ser a maioria, embora silenciosa e passiva – faça ouvir sua voz e se mobilize para exigir que o Estado cumpra com o dever de oferecer segurança à população, garantir o direito de propriedade e punir os responsáveis por atos criminosos. Precisa, também, lutar para resgatar os valores que marcam a formação do povo brasileiro e que vêm se perdendo pelo mau exemplo dos que, pelas posições que ocupam, deveriam ser paradigmas para a juventude brasileira.

Não adianta cantarolar que “o que será, será” e ficar passivamente esperando pelo futuro. Ainda é tempo de mudar esse estado de coisas dentro do processo democrático, mas não podemos nos demorar para começar a reagir. Uma outra canção aconselha que “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

O futuro será aquele que for construído hoje, ou o que deixarmos de fazer

Alencar Burti
Presidente ACSP