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Real forte ajuda a combatê-la

Guarulhos, 23 de fevereiro de 2007

A inflação brasileira está em níveis baixíssimos e o câmbio fraco tem sido determinante para isso. Pela primeira vez desde o início da estabilização monetária – em 1994, com o Plano Real – a taxa mensal ficou abaixo de 0,5% por 12 meses consecutivos. Cálculo da Universidade Federal do Rio (UFRJ) mostra que, não fosse a valorização do real em 2006, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do ano, que foi de 3,4%, teria ficado entre 4,4% e 5%.
A estimativa foi feita pelo especialista em inflação da UFRJ, Carlos Thadeu de Freitas Filho. Ele explicou que apenas a valorização do real nas últimas semanas já foi suficiente para motivar revisões da inflação prevista para o ano, de 3,8% para 3,65%.

Para o economista da MB Associados Sérgio Valle, o recuo do dólar vai perdurar por algum tempo. “A gente acredita que o câmbio vai continuar sendo importante em termos de inflação, mas o efeito não vai ser tão grande como nos anos anteriores, quando houve uma apreciação cambial muito forte.” A consultoria também reviu a previsão anual de IPCA de 4,1% para 3,8%.

“O câmbio nos últimos dois anos foi muito importante para manter a inflação baixa”, diz Valle. Os efeitos se dão de várias formas. Com o dólar fraco, o valor em real dos produtos importados diminui, assim como o custo de matérias-primas compradas em outros países, o que dá margem para baratear produtos fabricados no País. Ajuda, também, a compensar eventuais elevações de preços em dólar de commodities.

Além disso, ao reduzir a competitividade das exportações, o câmbio acaba permitindo a destinação ao mercado interno de mercadorias que seriam exportadas, pressionando os preços para baixo. Valle afirma que o dólar gera, ainda, efeito indireto sobre os preços no atacado calculados pelos Índices Gerais de Preços (IGPs) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), usados para corrigir o preço dos serviços, como energia e aluguéis.

Serviços – Freitas Filho comenta que o efeito do câmbio sobre serviços é mais lento do que sobre os produtos. Segundo ele, a maior parte dos custos do setor de serviços é de mão-de-obra. O consultor em informática Edgar Monteiro dá um exemplo prático. Ele compra componentes e peças para montar e consertar computadores e reconhece que alguns preços ficaram melhores. Na medida do possível, tenta repassar aos clientes os ganhos. “Quando compro peças mais baratas consigo praticar preços melhores e vender mais. Não estou sozinho”.

Automóveis – No varejo, o câmbio baixo beneficia determinados tipos de produtos. O advogado Mauro Machlach conta que tem visto preços de carros importados mais baixos e avalia que isso ajuda, indiretamente, a controlar também os valores dos automóveis fabricados no País. Ele conta também que comprou recentemente dois televisores com tela de cristal líquido a preços mais baixos do que custavam há dois anos.