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Comércio mostra cartão amarelo

Guarulhos, 22 de agosto de 2006

Com o objetivo de iniciar um movimento de negociação entre o comércio e as administradoras de meios eletrônicos de pagamento (cartões de débito e crédito), a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) convidou o chefe do Departamento de Operações Bancárias do Banco Central (BC), José Antonio Marciano, para um encontro com lojistas na sede da entidade. “Por receber queixas dos comerciantes em relação aos cartões, a ACSP torna-se parte no processo de discussão para chegar a uma solução razoavelmente satisfatória para os dois lados”, disse o diretor do Instituto de Economia Gastão Vidigal (IEGV), da ACSP, Marcel Solimeo.

Na reunião, realizada ontem, Marciano ouviu uma série de reclamações de lojistas e de representantes de entidades de varejo sobre as altas taxas cobradas pelas administradoras. Em resposta, Marciano disse que o BC disponibilizará, em setembro, um questionário para que os empresários relacionem os problemas com os sistemas de cartões de crédito e débito. Com base nos resultados dessa pesquisa, ele disse acreditar que será possível intermediar negociações com as administradoras de cartões.

Os varejistas dizem que as despesas com o sistema eletrônico – correspondentes às taxas por transação e ao aluguel das máquinas cobrados pelas administradoras – acabam inibindo a aceitação dos plásticos. Isso em um período de forte crescimento do uso dos cartões pelos consumidores. De acordo com o BC, entre 1999 e 2005, o uso de cartões de crédito cresceu 29%.

Risco – Nesse cenário, os comerciantes têm de optar por aceitar os cartões, arcando com altas despesas, ou se arriscar a perder os clientes, que querem usar os meios eletrônicos de pagamento. Assim, o varejista que opta por não aceitar cartões espera sempre ter a compreensão do cliente.

“As taxas elevadas reduzem sensivelmente nossa margem de lucro”, disse o proprietário da padaria Monte Líbano, Valdomiro Rocha. Mesmo a contragosto, ele ainda aceita pagamentos com cartões de débito.

Em geral, um pagamento com cartão de crédito faz o comerciante perder cerca de 10% do valor da venda, equivalentes à taxa da administradora e ao aluguel da máquina. E os lojistas dizem que as empresas não fazem qualquer tipo de negociação desses custos.

Repasse “ O proprietário de um tradicional bar de São Paulo, que preferiu não se identificar, disse que, se aceitasse pagamentos com cartões, seria obrigado a aumentar os preços para repassar os custos.

O proprietário da loja de acessórios Segura Mão, Eduardo Lee, afirmou que alguns clientes reclamam do fato de não aceitar cartões, mas que todos entendem a posição. “Pago à vista os produtos que estão disponíveis na minha loja. Por isso, sem aceitar cartões, tenho condições de vender mais barato”, afirmou o lojista.

Fiado “ O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos de São Paulo (Sincofarma), Pedro Zidoi, relatou no encontro na ACSP que as dificuldades com os cartões de crédito fizeram muitas pequenas farmácias voltarem ao tempo da caderneta, trocando a venda no cartão pelo crédito direto para os clientes, o velho fiado.

Além de se queixar dos custos altos, o gerente executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP), Sérgio Marques Junior, informou que o setor sofre muito com as constantes quedas nos sistemas das administradoras. A proposta do sindicato ao BC é a criação de uma opção de pagamento off-line, idéia, segundo ele, malvista pelas administradoras.

Os comerciantes reclamaram, ainda, da duplicidade de cobranças nos pagamentos com débito. “Esse problema é comum, mas as operadoras se recusam a assumir a responsabilidade pelas falhas. Aos comerciantes, resta arcar com o ressarcimento do cliente e esperar para receber o dinheiro de volta”, disse Marques.

Pesquisa – Em resposta aos comerciantes, Marciano disse que o BC disponibilizará, em setembro, um questionário para que lojistas relacionem os problemas com os sistemas de cartões. Com base nos resultados da pesquisa, ele disse acreditar que será possível intermediar negociações com as administradoras de cartões.

O assessor de Relações Institucionais do Sindicato dos Lojistas do Comércio de São Paulo (Sindilojas), Marcos Galindo, disse que a entidade recebe muitos pedidos de esclarecimento a respeito dos pagamentos com cartões. “Sempre informamos aos comerciantes que eles precisam estar atentos à legislação, mantendo, por exemplo, aviso visível quando não aceitarem os cartões”, afirmou.