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O verdadeiro desafio do Mercosul: A Integração de Talentos

Guarulhos, 07 de maio de 2005

Conta uma lenda chinesa que dois amigos que carregavam um peixe cada um encontraram-se num caminho e trocaram os peixes. Resultado: cada um continuou com um peixe.
Outros dois amigos encontraram-se num caminho com uma idéia cada um, e trocaram as idéias. Resultado: cada um voltou com duas idéias.

No Mercosul, assim como em vários acordos de comércio, se intercambiaram muitos peixes, muitas mercadorias, mas poucas idéias. Isso nos leva a pensar que as travas impostas pelos nossos paises ao tráfego de talentos só podem ser consideradas ao menos como falta de visão.

Quantas vezes ouvimos comentários referentes ao número de gênios de argentinos e de brasileiros que atuam em importantes centros de saber, universidades famosas americanas, européias, a NASA, centros de pesquisa, laboratórios, etc.

Se de um lado devemos ver isto com orgulho, por outro lado nos deveria dar tristeza verificar que nossos paises não conseguem aproveitar essas cabeças privilegiadas e mantê-las em casa gerando mais saber e conseqüentemente mais riquezas para nós.

Quando clamamos pelo rápido avanço dos acordos de integração do Mercosul, com ênfase no intercambio de técnicos e profissionais, reconhecendo os títulos e diplomas e promovendo o ir e vir dos cidadãos pedimos para aumentar o ângulo de visão, aliás, que esse intercambio deixe de ser visto pelo lado da concorrência de profissionais, onde um quer tirar o emprego do outro.

É preciso lembrar que a muitos desses compatriotas que hoje brilham no exterior, foi negado o “visto” de trabalho num dos nossos países e pior ainda, o país de origem que pagou pela formação do profissional não conseguiu mantê-lo. Investiu-se, e deixou-se que alguém “roubasse” esse talento.

Sem talento não podemos agregar valor aos produtos. Teremos que pagar por tecnologia externa para potencializar as nossas imensuráveis riquezas naturais, e nós estamos nos dando ao luxo de negar ou travar vistos de entrada de matéria cinzenta e mais grave ainda, permitimos que emigre para outros centros que posteriormente nos venderão esses conhecimentos na forma de royalties ou produtos com maior valor.

É por isso que enquanto Brasil e Argentina não conseguem ainda registrar mais de 100 patentes por ano, a Coréia que 30 anos atrás registrava menos da metade das patentes que produziam os nossos países hoje, ultrapassa 3000 registros por ano.

O Brasil e Argentina triplicaram da década dos 80 até o ano 2000 o número de patentes, passaram de 0,6 para 1,5 a Argentina e 0,2 para 0,6 o Brasil os registros nos Estados Unidos de patentes de invenção por milhão de habitante.

Este até poderia ser um fato altamente positivo, não fosse a triste comparação destes números. Nesse mesmo período a Coréia passou de 1,3 para 70,1 e os Estados Unidos de 165,9 para 308,7 os registros de patentes por milhão de habitante! E nós continuamos buscando pêlo em sopa travando o desenvolvimento da inteligência.

Muita coisa deve ser feita pela integração: a convergência macroeconômica, a harmonização dos regulamentos fitosanitários, a regulamentação das soluções para as controvérsias, a legislação aduaneira, a limpeza de todos os pontos de conflitos existentes no contencioso, etc., mas nada, absolutamente nada é mais importante que acelerar a integração de pessoas, de criar o espaço Mercosul para os habitantes porque não existem no planeta povos que tenham características mais próximas por etnias, religiões e culturas que os nossos.

A verdadeira alavanca do desenvolvimento será sempre a educação e a transferência de cultura e de talentos. Essa é sem dúvida a ferramenta mais importante para provocar a evolução.

Se olharmos os fatos por um ângulo maior, e vendo o bosque e não apenas a árvore, aquelas pessoas que circulariam entre os paises, exercendo o direito de ir e vir com liberdade, ganhariam pelo menos mais um idioma. Exatamente, aquele argentino que chegou ao Brasil, após um tempo teria dois idiomas e o brasileiro que foi para a Argentina também teria dois idiomas, além de ambos terem dado e recebido muitas idéias.

Alberto J. Alzueta
Diretor Presidente da Câmara de Comércio
Argentino – Brasileira de São Paulo
Setembro/2003