Notícias

Mercado de trabalho começa ano com pé direito

Guarulhos, 24 de fevereiro de 2005

O operador de caixa Raphael Olivati Spíndola acha que começou muito bem 2005. E tem bons motivos para pensar isso. Ele é uma das 55 mil pessoas que conseguiram um emprego no último mês de janeiro. Essas novas colocações, geradas especialmente na indústria e comércio, levaram a uma queda surpreendente do desemprego nas 39 cidades que compõem a Região Metropolitana de São Paulo. A desocupação passou de 17,1% da População Economicamente Ativa (PEA) em dezembro para 16,7% no mês passado.
A redução foi considerada “atípica” pelos técnicos da Fundação Seade e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), responsáveis pela pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). O motivo é que janeiro é um mês em que normalmente aumenta o desemprego. Afinal, muita gente é contratada apenas para o período de pico do final de ano.

De acordo com Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese, em 20 anos da realização da pesquisa, apenas em outras quatro ocasiões houve retração do desemprego de dezembro para janeiro (em 1993, 1995, 1996 e 1997). Além disso, a taxa atual é a menor desde janeiro de 2001.

Concorrência menor – Para o diretor, a redução do índice pode ser explicada pela saída de 114 mil pessoas do mercado, volume maior que os 55 mil postos eliminados no mês passado. Ou seja, houve redução de 59 mil pessoas no número de desempregados, que agora somam 1,659 milhão na região metropolitana.

De acordo com Lúcio, é normal que aconteça essa saída de pessoas do mercado em janeiro. “O que nos surpreendeu foi a geração de postos de trabalho na indústria e comércio, já que, tradicionalmente, janeiro é um período de redução da ocupação nesses dois setores”, afirma o diretor do Dieese.

Prova disso é que, nos mês passado, a indústria gerou 31 mil novas vagas e o comércio, 24 mil ocupações. Por outro lado, foram eliminados 46 mil empregos no setor de serviços e 64 mil em outros ramos, como na construção civil e serviços domésticos.

“Percebemos que a expansão do emprego na indústria está muito relacionada ao mercado interno, como ocorreu nos setores de alimentação e têxtil. Ao contrário do que houve em 2004, que foi muito apoiado nas exportações”, complementa Alexandre Loloian, coordenador da Fundação Seade.

Tempo de busca – Apesar do índice de desemprego ter caído, o tempo médio despendido na procura de uma nova colocação não se alterou de dezembro para janeiro, permanecendo em 56 semanas. “Porém, esse período é a média, já que há pessoas que levam até dois anos para se recolocarem e outras se acertam em menos de um mês”, afirma Loloian.

Mais uma vez, a estatística confirma a sorte do operador de caixa Raphael Spíndola. Ele não apenas arrumou trabalho em janeiro, mas também conseguiu a colocação enquanto ainda estava no antigo emprego. Spíndola foi contratado para atuar na nova filial da Sangoi Big Fish, uma rede de lojas especializada em equipamentos de lazer e náutica, no Shopping ABC, em Santo André. Segundo o gerente da loja, Omar dos Santos Barbosa, ainda foram contratadas outras duas pessoas no mês passado. “Com isso, totalizamos 13 funcionários, pois os outros dez vieram da nossa matriz e de filiais”, conta.

Segundo Barbosa, as vendas no mês surpreenderam. “Pela minha experiência em varejo, o que observo é que as pessoas estão com a situação econômica mais estável. Com isso, voltam a gastar um pouco mais com lazer, que é o nosso segmento”, analisa.

Patrícia Büll