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Meio século de vendas seguras

Guarulhos, 24 de novembro de 2004

Qualquer que seja o cenário econômico, 2005 será um ano de festa para o comércio. O motivo é o cinqüentenário de um marco para a evolução do crediário no País. Criado oficialmente naquele ano, o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) revolucionou a forma de vender.

Foi em 1955. Época de turbulência política e eleitoral, pós era de Getúlio Vargas e seu populismo, quando os brasileiros se preparavam para eleger, em outubro, Juscelino Kubitschek o novo presidente da República. O processo de industrialização andava a todo o vapor e instituições então recém-criadas, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Petrobras, ainda engatinhavam. O Brasil crescia, a economia se desenvolvia, com melhora no emprego e aumento do comércio. As vendas a prazo, porém, traziam muitas dores de cabeça para lojistas e consumidores.

Não havia segurança nas transações e o processo de aprovação do crediário levava de sete a 10 dias. “Existia a figura do entrevistador, um profissional que ia checar pessoalmente os dados do comprador”, conta Daniel Marcantônio, gerente de operações da Unidade de Pessoas Físicas (UNPF) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

“Os entrevistadores se reuniam no Largo do Café, no Centro de São Paulo, para trocar informações sobre os clientes. Mesmo assim, não havia como saber se uma pessoa estava ou não inadimplente em alguma empresa”, completa.

Problema – Se a aprovação de crédito era insegura para as lojas, se tornava um transtorno para os consumidores. Eles precisavam oferecer inúmeras referências e aguardar um longo período para saber se poderiam efetuar a compra.

O problema afetava o comércio em todo o País. “Não havia segurança e o crédito era incipiente. Por isso as lojas se reuniram para tentar descobrir juntas uma maneira de minimizar o risco da venda parcelada”, lembra Hélio Maurer, sócio da Joalheria Cruzeiro na época e um dos fundadores do serviço de proteção ao crédito de Porto Alegre (RS).

A necessidade nacional levou ao nascimento praticamente simultâneo dos primeiros serviços de proteção ao crédito brasileiros. Em São Paulo, a reunião que definiu a criação do SCPC foi no dia 14 de julho, a partir de um pedido da Casas Minerva. As atividades foram iniciadas oficialmente um pouco depois, em 14 de outubro. Em Porto Alegre, o registro do serviço data de 22 de julho, com 27 empresas. E, no Rio de Janeiro, a história das vendas seguras começou em 07 de novembro.

Evolução – “No começo eram feitas listas com os nomes dos maus pagadores para serem distribuídas entre as lojas”, diz Egídio Backes, ex-presidente do Centro de Atendimento dos serviços de proteção ao crédito (Casp). As relações incluíam clientes com contas em atraso há mais de 90 dias. O sistema, porém, ficava desatualizado rapidamente e se tornou ineficaz.

Foi então que surgiram as fichas. Um enorme fichário reunia todos os registros dos mau pagadores. Modelo que também ficou obsoleto. A partir daí, os serviços de proteção ao crédito não pararam de crescer. Das fichas para rolos de fitas e depois para a informática.

Em São Paulo, o processo de informatização levou sete anos e foi concluído em 1983. Hoje, a tecnologia empregada é de alta capacidade e as consultas são instantâneas, feitas pela internet.

Rede – O crescimento do mercado levou à união dos serviços de cada entidade em uma única rede nacional, a Rede de Informações e Proteção ao Crédito (RIPC). Inaugurada em 2001, ela hoje congrega São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e acessa as informações do Rio Grande do Norte.

São mais de 1200 entidades unidas pelo País, com estatísticas surpreendentes. Só em São Paulo, o serviço que começou com 36 empresas e 1755 consultas em outubro de 1955, hoje atende mais de 20 milhões de chamadas por mês. E 98% das respostas são dadas em um prazo de um a três segundos, a partir de um banco de dados com mais de 100 milhões de registros. Números que comprovam que o comércio tem muito a comemorar no ano que vem.

Estela Cangerana