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EUA tiram mercados cativos do Brasil

Guarulhos, 04 de novembro de 2004

Os acordos bilaterais fechados entre Estados Unidos e países da América Latina representam uma perda de mercado para as exportações brasileiras, assim como ocorreu no México dez anos após o início da Nafta (o acordo de livre comércio com Canadá e EUA).

A conclusão é de pesquisa da Fiesp (a federação das indústrias de São Paulo), divulgada nesta quarta-feira, 03, feita em parceria com o escritório Rubens Barbosa e Associados e o instituto Icone.

De acordo com a pesquisa, os EUA conseguiram fechar acordos comerciais com países do continente americano mais amplos e mais vantajosos que os acordados no âmbito da Aladi (Associação Latino Americana de Integração) e mesmo do Mercosul.

Esses acordos resultaram efetivamente em avanço dos produtos americanos sobre mercados antes “cativos” dos produtos brasileiros, mesmo nos casos em que sejam mais competitivos que os similares dos EUA.

O México é o caso exemplar porque os acordos feitos no âmbito da Nafta já completaram 10 anos. Neste período, o Brasil perdeu para os EUA parte do mercado mexicano de suco de laranja, calçados, açúcar e aço. A exceção é o setor automotivo porque os empresários brasileiros negociaram acordos à parte que mantiveram a participação do país.

O Brasil também pode perder posições no Chile, que fechou acordo com os EUA há seis meses, afirmam os responsáveis pelo estudo. “O acordo Chile-Estados Unidos é mais profundo que o acordo Mercosul-Chile”, diz o ex-embaixador do Brasil em Washingon Rubens Barbosa, hoje a frente da diretoria da Fiesp para assuntos de comércio exterior.

A pesquisa mede a chamada “margem de preferência” em acordos comerciais. Esse indicador aponta qual o tamanho do desconto que os produtos de um país têm ao ser vendido para outro.

Assim, os produtos brasileiros possuem, em média, uma margem de preferência de 54% ao exportar para sete países da Aladi: México, Chile, Bolívia, Venezuela, Colômbia, Peru e Equador. No caso particular do México, o Brasil conta com uma preferência de 72,7%. Os Estados Unidos e o Canadá, devido à Nafta, tem preferência de 87,9% e 93,7%, respectivamente.

O quadro é semelhante no Chile: a margem de preferência do Brasil é de 68,5% enquanto os Estados Unidos, de 96,3%.

“É meio estranho que o Chile tenha concedido maiores vantagens para o Estados Unidos, sendo membro associado do Mercosul”, diz Barbosa. Ele também afirma que já existem indícios de avanço dos produtos americanos sobre as importações chilenas de açúcar e suco de laranja, embora não tenha citado números.

Marcos Jank, do Icone, afirma que a alteração nos mercados ocorreu devido a uma estratégia dos Estados Unidos que ele chama de “liberalização competitiva”: em vez de negociar acordos multilaterais no âmbito da Alca, a maior economia do planeta investiu na multiplicação de acordos bilaterais, uma tendência, aliás, de outros países.

“Houve uma explosão de acordos bilaterais pelo mundo nos últimos 10 anos, segundo a OMC [Organização Mundial do Comércio]”, diz Jank. Agora, os Estados Unidos “deverão avançar sobre os parceiros do Mercosul mais cedo ou mais tarde”, afirma ele.

A pesquisa da Fiesp abrangeu um rol dos 70 produtos mais exportados pelo Brasil para os sete países escolhidos, levando em conta a média do fluxo comercial do triênio 2001-2003 e as tarifas acordadas em 2002.

Epaminondas Neto