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Brasil de olho no mercadorusso

Guarulhos, 13 de outubro de 2004

O Brasil quer triplicar as exportações destinadas à Rússia até o fim de 2006. As metas são diversificar a pauta dos itens comercializados, ampliar a participação dos produtos de maior valor agregado e elevar de US$ 1,5 bilhão para US$ 4,5 bilhões as receitas obtidas com os embarques. Os produtos que deverão registrar as maiores taxas de expansão no mercado russo são materiais de transporte, máquinas e equipamentos, alimentos industrializados, jóias, calçados, têxteis e de higiene e beleza.

A meta de ampliação dos negócios é ambiciosa e exigirá um árduo trabalho das empresas e do governo. De janeiro a agosto deste ano, as exportações destinadas à Rússia somaram US$ 1,024 bilhão, com alta de 8,7% sobre os US$ 942 milhões embarcados em igual período do ano passado. O crescimento ainda não tão expressivo quanto o necessário para uma ampliação robusta das exportações é em parte explicado pela queda de 38,65% dos embarques de açúcar.

Principal item do comércio bilateral entre os dois países, o açúcar rendeu US$ 272,3 milhões em receitas nos primeiros oito meses deste ano bem abaixo, portanto, dos US$ 443,9 milhões obtidos em igual período do ano anterior. Em compensação, aumentou a participação de itens de maior valor agregado tais como tratores (+380%), motocompressores (+174%), dentifrício (+168%), café solúvel (+116,37%) e carne bovina desossada (+162).

Esses produtos ainda possuem baixa participação no total exportado, mas as elevadas taxas que crescem no mercado consumidor russo sinalizam maiores perspectivas de negócios.

– Os russos estão descobrindo o Brasil. Em cada ação, reforçamos nossa imagem – comentou o diretor da Agência de Promoção de Exportações (Apex), Alessandro Teixeira.

Os empresários e o governo elegeram a estratégia da persistência para atingir a meta de embarques de US$ 4,5 bilhões. Após os primeiros trabalhos de prospecção feitos naquele país em 2003, os exportadores mantiveram-se presentes na Rússia ao longo deste ano. A tática comercial que se mostra mais eficaz é a divulgação da imagem do Brasil como país tropical da moda, dos produtos originários da Amazônia e de bebidas como a cachaça, café e sucos.

A última ação de promoção e de negócios realizada em Moscou ocorreu entre 24 e 29 de setembro e rendeu US$ 11,2 milhões em pré-contratos que deverão ser concretizados em 12 meses. A promoção comercial privilegiou os setores de jóias, vestuário, calçados e cosméticos. O estilista Amir Slama, da grife Rosa Chá, resumiu a impressão que teve:

– Foi uma surpresa. Moscou é uma cidade frenética e a ânsia por consumo é grande.

Slama foi, com os estilistas Alexandre Herchcovitch e Walter Rodrigues, responsável por um desfile de marcas brasileiras.

– As pessoas ficaram encantadas porque não sabiam que produzimos moda de qualidade e com gabarito – acrescentou.

A exportação para um país de hábitos e culturas diversos não assusta o estilista. A marca Rosa Chá é hoje comercializada em 10 países.

Os russos têm interesse também na importação de jóias. Tradicionais compradores de peças em ouro, eles se sentem atraídos por arranjos com pedras preciosas e prata. Na ação comercial de setembro, 20 empresas brasileiras apresentaram seus mostruários.

– Se tivéssemos podido vender no varejo, teríamos vendido tudo e esse interesse nos permitiu testar o consumidor russo. As negociações com distribuidores foram encaminhadas e há empresas interessadas em representar o Brasil – comentou Hécliton Santini, presidente do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM).

Calçado é outro produto em trajetória ascendente. Posicionado em um nível intermediário com qualidade superior ao similar asiático e com preço inferior aos sapatos top de linha de origem italiana, o calçado brasileiro apresenta-se como alternativa. De janeiro a agosto deste ano, os fabricantes brasileiros embarcaram US$ 2,4 milhões em calçado de couro para a Rússia, 20,53% acima do montante negociado em igual período de 2003. No mês passado, 10 fabricantes estiveram em Moscou para negociar representação com distribuidores.

– O mercado deles é atraente porque a produção local de calçados não existe, a importação é grande num mercado em que o nível de renda da população cresce e o PIB se expande – comentou Heitor Klein, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria do Calçado.

Das 10 empresas, oito fecharam acordo com distribuidores russos.

Mas a estratégia com a Rússia, país com 145 milhões de habitantes, vai requerer mais que promoção comercial. Embora o objetivo central seja a ampliação das exportações, autoridades e empresários sabem que o sucesso da aproximação exigirá reciprocidade. É esse um dos sentidos da visita que o vice-presidente José Alencar faz a Moscou. Caberá a Alencar, e aos diplomatas que o acompanham, abrir negociações nas áreas do agronegócio, gás natural, tecnologia bancária, cooperação espacial, energética, militar e científico-tecnológica. Um dos interesses dos russos é a licitação internacional do governo do Brasil para a aquisição entre 12 e 24 aeronaves, operação que movimentará cerca de US$ 700 milhões.

Luciana Otoni