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O feliz Natal do varejo ficou para 2004

Guarulhos, 29 de dezembro de 2003

VidalCavalcante/AEA decoração encantou adultos e crianças. O varejo caprichou nas promoções e facilidades de pagamento. As ruas de comércio popular e os corredores dos shoppings ficaram lotados. Tudo indicando um feliz Natal. Mas a sonhada virada nas vendas de final de ano ficou mesmo para 2004.

O desempenho do comércio melhorou, mas foi pouco para compensar um ano inteiro de perdas. Segundo as estimativas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), no acumulado de 2003 deve haver queda de 1,6% nas vendas a prazo e de 1,5% nas transações a vista.

Mas a retração poderia ser maior não fosse o enorme esforço feito para movimentar a economia em dezembro, como a campanha Natal Iluminado, que enfeitou as ruas de São Paulo. Com isso, o mês deve ser encerrado com uma expansão de 7,4% nas vendas a prazo, sinalizadas pelas consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC). Já as transações a vista, refletidas pelo Usecheque, devem ter uma alta de 6,5% em relação a dezembro de 2002.

Para conseguir registrar esse crescimento, o comércio contou ainda com a ajuda do calendário. Neste ano, o mês de dezembro teve um dia útil a mais que em 2002. Um outro fator que impulsionou a alta das vendas foi a base ruim de comparação. O varejo vem enfrentando dois anos de movimento fraco no Natal. Em 2002, a retração nas vendas a prazo foi de 1,8% e, em 2001, chegou a 4,9%. Nesse período, as transações a vista subiram, mas isso foi motivado pela grande saída de produtos de valor mais baixo, as famosas “lembrancinhas”, que marcaram os últimos natais.

Recuperação – “O varejo só vai se recuperar de fato quando o poder de compra dos salários parar de cair. O primeiro semestre de 2004 ainda deve ser fraco”, afirma o economista Emílio Alfieri, da ACSP.

O efeito negativo da queda da renda e o alto índice de desemprego também são apontados pelo vice-presidente da Associação dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências (Univinco), Ernesto Luiz, como os principais fatores que impediram o crescimento do varejo no ano. “Com o bolso apertado, as pessoas contiveram as compras ao longo de 2003. Durante todo o ano trabalhamos apenas para pagar nossas contas”, diz.

Segundo ele, o aumento do faturamento do atacado da região (que deve ficar em 20% neste final de ano) e do varejo (15%), vai ser suficiente apenas para “dar um respiro para os lojistas”. O volume de pessoas que optaram pelo comércio na região central de São Paulo também cresceu. Cerca de 1 milhão de consumidores passaram diariamente pela rua 25 de Março neste mês de dezembro, uma alta de cerca de 20% em relação ao mesmo período de 2002.

Volta às ruas – A alta do faturamento nas lojas de rua, detectada pela Univinco, comprova uma mudança no comportamento do consumidor. Em busca de preços acessíveis, muitos “papais-noéis” abriram mão do conforto dos shoppings neste ano. “O resultado foi a reversão da trajetória de queda no comércio de rua, que vinha ocorrendo desde o início do Plano Real”, diz Emílio Alfieri. A constatação também foi feita pela Associação Brasileira dos Lojistas de Shopping Center (Alshop). Segundo a entidade, as vendas de Natal nos centros de compras não cresceram em 2003, apenas empataram com as de 2002.

A intenção do consumidor de voltar a comprar nas lojas de rua já havia sido antecipada por uma pesquisa da ACSP e publicada em novembro pelo Diário do Comércio.

Estela Cangerana