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Modelo econômico emperra produção

Guarulhos, 03 de dezembro de 2003

A falta de investimento, os juros altos e a elevada carga tributária inviabilizam qualquer projeto de crescimento para o Brasil. Essa é a opinião de representantes da indústria, do setor de serviços e dos trabalhadores, que participaram, nesta terça-feira, 02, do seminário “Produzir para Crescer”, promovido pelo PMDB e a Fundação Ulysses Guimarães, na Câmara dos Deputados.

Em tom crítico à política macroeconômica do governo federal, os palestrantes traçaram o perfil do setor produtivo nacional e apontaram um cenário pouco otimista para o País, caso sejam mantidas as linhas gerais do atual modelo econômico.

O mais enfático na exposição foi o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Guilherme Afif Domingos, convidado para analisar a situação atual do setor de serviços. Para ele, o País tem um problema tributário grave, que, se não for corrigido, vai deixar a economia real cada vez mais distante da que seria ideal e vai gerar a necessidade de uma rediscussão abrupta do sistema.

“Estamos em um País onde o empreendedor acorda planejando não crescer. Porque, se ele tiver a infelicidade de crescer, será tragado pela tributação”, criticou. Segundo Afif, esse cenário indica um forte processo de informalização da economia. Para exemplificar, ele citou pesquisa divulgada esta semana pelo Sebrae, que aponta 72% das micro e pequenas empresas de São Paulo trabalhando na informalidade ou na semi-informalidade. Para o presidente da ACSP, esses números deveriam servir como um sinal de alerta para o Congresso.

Reforma – Afif ainda fez um apelo aos parlamentares. “Se for para aprovar essa Reforma Tributária, é melhor não aprovar nada. A reforma proposta vai agravar a situação porque ela não olha o lado real da economia”, analisou. Segundo ele, o ideal seria, em primeiro lugar, fazer uma reforma fiscal e, depois, a tributária.

Durante o seminário, o presidente da ACSP ainda abordou a falta de crédito para movimentar a economia. “O crédito, nos Estados Unidos, corresponde a 130% do PIB (Produto Interno Bruto). No Brasil, esse percentual é de 24%”, lamentou.

Para Afif, o País não tem como crescer se basear sua política econômica na renda do brasileiro, que está em queda. É preciso baixar os juros de forma inteligente e abrir canais de crédito. Uma das formas apontadas por ele é a criação do cadastro positivo, que poderia oferecer taxas diferenciadas aos bons pagadores.

Atraso – O empresário Jorge Gerdau, representante da indústria no seminário, disse que as reformas em andamento são insuficientes e reduzem o poder de competitividade da indústria brasileira. “Com relação a países da Europa ou o Canadá, por exemplo, estamos mais de 10 anos atrasados com relação ao sistema tributário, que é um aspecto imprescindível para conquistar competitividade”, analisou.

Para Gerdau, um dos principais problemas brasileiros está no gerenciamento dos recursos. “A melhoria da poupança pública para investimentos passa pela competência gerencial. É preciso gerir melhor os recursos escassos, ao invés de aumentar a carga tributária”, enfatizou o empresário.

Os dirigentes sindicais presentes ao encontro, também fizeram críticas duras ao governo. Luiz Marinho, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), acusou a política econômica de ser inútil no combate às desigualdades. Já presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, comparou o governo Lula ao de Fernando Henrique Cardoso e disse que o atual está sendo pior para o Brasil que o anterior.

Defesa – Os discursos otimistas no seminário ficaram por conta do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles; do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa; e do representante do setor de agronegócios, Renato Abreu.

Meirelles ressaltou o equilíbrio das contas públicas como grande mérito do atual governo e traçou um panorama favorável para a economia em 2004. Lessa falou sobre o projeto de investimentos do governo, inclusive com empréstimos feitos pelo banco a outros países, como fator de geração de renda e emprego. Já Renato Abreu afirmou que, em prazo mais curto do que o imaginado, o País entrará na lista dos países desenvolvidos, carregado pelo sucesso do setor.

Alexandre Costa