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Brasil já é vice mundial no juro real

Guarulhos, 20 de outubro de 2003

O Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne a partir desta terça-feira, 21, para decidir os rumos da taxa básica de juros do país, a Selic. A expectativa do mercado é de que o Copom decida por um corte entre 1 e 1,5 ponto percentual na Selic, hoje em 20% anuais. Opte o BC pela redução maior ou a menor, porém, o Brasil caminha para fechar o ano com os maiores juros reais – taxa básica descontada a inflação – do mundo.

A previsão consta do último relatório sobre o tema produzido pela consultoria Global Invest e obtido com exclusividade pelo Jornal do Brasil. No mês passado, o Brasil já assumia a vice-liderança do ranking mundial, com a taxa real passando dos 7,7% de agosto para 8,3%. E, mesmo que o Copom reduza a Selic em 1,5 ponto percentual esta semana, como espera o economista Alexsandro Agostini Barbosa, autor do trabalho, os juros reais subirão para 8,5% este mês.

Agostini explica que isso acontece porque os cortes na Selic não estão acompanhando a queda da inflação na mesma proporção. Além disso, o choque de juros iniciado no fim do ano passado para conter o repique inflacionário ainda está elevando em muito a taxa acumulada nos últimos 12 meses.

Dessa forma, a tendência é de aceleração no avanço dos juros reais até o fim do ano. Para novembro, a projeção do economista da Global Invest é de que a taxa real alcance os dois dígitos (10,9%), ainda que o Copom decida reduzir a Selic em mais um ponto percentual. E, para dezembro, a expectativa é de que chegue a 12,3%, mesmo diante de outro corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica, que fecharia 2003 em 17% anuais.

– Isso compromete muito a atividade econômica, porque o investidor do setor produtivo, quando olha esse juro real, sabe que deixar seu dinheiro no mercado financeiro demanda menos esforço e risco do que aplicar na produção – avalia Agostini.

O economista, no entanto, entende que o BC fique “mais cauteloso” quanto aos rumos da Selic até o fim do ano. Depois dos “ousados” cortes de 2,5 pontos percentuais em agosto e mais 2 pontos em setembro, considera, o Copom deverá aguardar que os primeiros efeitos dessa política de redução apareçam na atividade econômica do país, o que “demora” para acontecer.

– O dilema do BC agora é saber se foi além, aquém ou dentro do necessário nos cortes. Se continuar com as reduções da magnitude observada nos últimos meses, os efeitos delas começarem a aparecer e tiverem ido além do esperado, pode ter de parar com a queda para não comprometer a meta de inflação de 2004 – diz Agostini, lembrando que a Lei de Diretrizes Orçamentárias do ano que vem prevê uma Selic média de 15,2%, o que deverá levar o BC a “continuar com os cortes” em 2004.

Opinião parecida tem Emanuel Pereira, diretor-executivo da GAP Asset Management. Para ele, o BC vai desacelerar o processo de redução dos juros, “porque já fez a queda mais importante” e o que dava para cair rápido “já caiu”.

– Não vamos continuar a ver cortes na Selic no ritmo dos últimos meses, em que já tivemos uma queda expressiva de mais de seis pontos percentuais. Os efeitos da política monetária não são tão rápidos assim e a inflação não está tão baixa assim.

O BC vai agir com um pouco mais de cautela a espera que as reduções comecem a bater na economia, que já dá sinais de estar crescendo. Se houver uma aceleração da demanda, não se pode ter juros muito baixos, sob o risco de vermos uma forte pressão inflacionária – avalia Pereira, para quem o Copom decidirá por um corte de um ponto percentual nesta quarta-feira.

Cesar Baima