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País teve inflação de 45,2% e cresceu 4,8% no século XX

Guarulhos, 30 de setembro de 2003

Se o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrar o ano com alta de 9%, conforme acreditam vários analistas, será equivalente a um quinto da inflação anual média do século XX – de 45,2%, segundo os cálculos do economista Eustáquio Reis, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Eustáquio foi um dos autores do capítulo “Século XX nas Contas Nacionais”, que integra o estudo “Estatísticas do Século XX”, divulgado nesta segunda-feira (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu a uma taxa anual média de 4,8% no século XX. É uma expansão bem mais alta do que a prevista para 2003 – entre 0,5% e 0,98%, segundo as projeções do Ipea e do Ministério da Fazenda.

Inflação acumulada em quintilhão

O economista do Ipea descobriu a inflação acumulada de 1901 a 2000: 1.113.694.017.907.650.000% ou, aproximadamente, 1,114 quintilhão. Isso significa que, se a moeda do século XX tivesse sido sempre o real, o produto que custasse 1 real em 1901 teria custado 1 quintilhão e cento e quatorze quatrilhões de reais em 2000. Para o cálculo, Eustáquio usou o deflator implícito do PIB, dada a ausência de um índice de preços que tenha perdurado por todo o século passado.

O estudo do IBGE mostra que, a partir da década de 30, a inflação apresentou tendência exponencial de crescimento, só invertida com o Plano Real, lançado na metade de 1994. Dos 6% apurados nos anos 30, a taxa anual média de inflação subiu para 12% nos anos 40; 19% nos anos 50; 40% nas décadas de 60 e 70; 330% nos anos 80; e 764% de 1990 a 1995. A queda ocorreu somente de 1995 a 2000, quando a taxa anual média de inflação passou para 8,6%.

Crescimento do PIB foi de 110 vezes

Em termos de valores, o crescimento do PIB brasileiro, de 1901 a 2000, foi de 110 vezes. O PIB per capita, por sua vez, aumentou quase 12 vezes no século passado, a uma taxa média de expansão anual de 2,5%. O maior crescimento ocorreu entre 1920 e 1980. Nesse período, de progressivas urbanização e industrialização, o PIB per capita praticamente dobrou a cada duas décadas. De 1980 a 2000, o indicador teve avanços medíocres ou até declínios.

O estudo do IBGE mostra também as mudanças estruturais da economia brasileira. A agricultura, inicialmente calcada no plantio do café e na exploração da borracha, reduziu de 45% para cerca de 10% sua participação no PIB do país no século passado. Os serviços, por sua vez, saíram de 44% do PIB em 1900 para 61% na década de 90. E a indústria, que tinha peso de apenas 12% no início do século, atingiu a faixa de 30%.