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Brasil avança na lista dos maiores juros do mundo

Guarulhos, 17 de setembro de 2003

O conservadorismo da política monetária no governo Luiz Inácio Lula da Silva fez o Brasil dar um salto no ranking das taxas de juros reais – descontada a inflação – mais altas do mundo no mês passado. Segundo levantamento da consultoria Global Invest, o país fechou agosto com a terceira maior taxa real do planeta no acumulado dos últimos 12 meses: 7,7%. Em julho, o Brasil havia ficado na quinta posição na lista, com juros reais de 6,8%, e, em junho, estava em sétimo, com taxa de 5,1%.

E o avanço brasileiro no ranking dos juros reais vai continuar nos próximos meses. A queda da inflação, somada ao aumento da média acumulada em 12 meses da taxa básica (Selic), que no início deste ano atingiu o maior patamar desde 1999, elevará os juros reais do país para 8,6% em outubro e para acima dos dois dígitos em novembro, quando deverá ficar em 11%, prevê a Global Invest. Isso mesmo levando em conta que o Comitê de Política Monetária do Banco Central decida por um corte de dois pontos percentuais na Selic na reunião que termina nesta quarta-feira (17), levando a taxa nominal para 20% ao ano e por outra redução de um ponto percentual na reunião de outubro.

– A armadilha da indexação dos preços administrados dos serviços públicos privatizados (leiam-se os reajustes das contas de luz e do telefone, por exemplo) pressionou o governo a manter os juros altos. Assim, a curva de juros subia, enquanto a da inflação caía – explica Alexsandro Agostini, analista da Global Invest responsável pela pesquisa.

Segundo Agostini, os altos juros reais serão mais um freio na retomada do crescimento da economia, pois as empresas levam em conta os rumos desse indicador quando da decisão de investimentos na produção. Pela previsão da Global Invest, a taxa atual, descontada a projeção de inflação dos próximos 12 meses, leva os juros reais a 14,8%. Assim, com as taxas reais em alta, lembra, é mais lucrativo e menos trabalhoso aplicar no mercado financeiro do que na expansão da produção.

– A prática excessiva dessa política de juros altos pelo governo, levou a esse quadro de recessão em que estamos. O investidor olha para a frente e vê que corre o risco de grande prejuízo se, ao invés de deixar o dinheiro aplicado no mercado, ampliar a produção. O juro real alto é estímulo ao investimento financeiro, que também demanda um esforço pequeno – avalia.

O analista, que aposta que o Copom fará um corte de 2 pontos percentuais na Selic, crê que o BC está aumentando o ritmo de redução da taxa justamente por isso.

– O BC está reconhecendo que exagerou na dose, tanto que está correndo atrás nos cortes e ficando mais ousado. No lugar de cortar meio ponto ou um ponto, está fazendo cortes de 2,5 pontos percentuais, quebrando o conservadorismo – diz Agostini.

Cesar Baima