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Indústria está disposta a cortar preço para vender mais

Guarulhos, 06 de agosto de 2003

A forte queda do consumo obrigou a maior parte do setores industriais a reduzir o uso da capacidade instalada de suas fábricas, que já vinham com um nível de estoque elevado. Com isso, muitos ramos de peso projetam diminuir preços para desencalhar os produtos estocados.

É o que revelam dados da Sondagem Conjuntural da Indústria da FGV (Fundação Getúlio Vargas), relativa ao trimestre julho a setembro, obtidos pela Folha. Os estoques altos devem também adiar a recuperação da produção da indústria, mesmo que a economia volte a ficar aquecida com a redução das taxas de juros.

Dos 21 setores pesquisados, 13 tiveram queda na utilização da capacidade instalada de abril para julho (a pesquisa é trimestral). Quase todos vendem preferencialmente ao mercado interno.

No caso de bebidas, as fábricas operavam com 71,4% de sua capacidade em janeiro. O percentual caiu para 61,9% em abril e para 52,4% em julho. Em junho de 2002, era de 66%. Também tiveram quedas expressivas os ramos de fumo, vestuário e calçados, além das indústrias de matérias plásticas e farmacêutica.

Com estoques altos e a demanda enfraquecida, 38% das fábricas de alimentos -os últimos bens a serem cortados do orçamento das famílias – afirmam que vão reduzir seus preços. O mesmo ocorre com as indústrias químicas: 77% apostam em reduções.

Para Aloisio Campelo, economista da FGV responsável pela sondagem, três fatores explicam esse movimento: o recuo do dólar no trimestre passado – que diminuiu os custos de vários setores -, o desaquecimento da economia e os altos estoques.

Dos 21 setores, apenas três estão com nível de estoques adequado. Estão superestocados ramos como material de transporte – 73% das montadoras dizem estar com os pátios cheios -, vestuário e matérias plásticas (embalagens).

Os estoques altos são ruins para a retomada do nível de atividade, mas ajudam a manter os preços em queda. É o que afirma Marcelo Cypriano, economista do BankBoston: “Provavelmente, a deflação dos preços livres (inclui os industriais) deve se intensificar”.

Ele prevê queda de 0,2% nos preços livres apurados pelo IPCA. Por causa do aumento das tarifas de energia e telefone, o IPCA “cheio” deve ter subir 0,1%. O lado negativo, diz, é o adiamento da recuperação da produção.

Pedro Soares