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Além da queda da inflação, varejo precisa de juro menor

Guarulhos, 19 de maio de 2003

A desaceleração dos principais índices de inflação no País não animou os consumidores. É o que mostram os números de consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito, SCPC, e ao Usecheque, que são indicadores do movimento do comércio, coletados pela Associação Comercial de São Paulo, ASCP. Ambos registraram queda na primeira quinzena de maio, período com forte apelo comercial devido ao Dia das Mães.

As consultas ao SCPC (que sinaliza as vendas a prazo) diminuíram de 1,4% nos primeiros quinze dias do mês, em relação ao mesmo período de 2002. Já o Usecheque, que é um termômetro dos negócios a vista, mostrou queda de 0,7% nas chamadas no intervalo.

Os resultados são ainda mais desanimadores se for considerado que os percentuais negativos tiveram como base a comparação com os resultados do ano passado, que já foi um ano muito fraco para o varejo.

Realidade – Segundo os economistas ouvidos pelo Diário do Comércio o cenário macroeconômico positivo, com a recente melhora dos indicadores financeiros (redução dos índices inflacionários, queda do dólar, valorização dos títulos brasileiros e risco Brasil em nível mais baixo), não chegou a alterar a realidade da população. A massa salarial continua caindo, os índices de desemprego são elevados e as taxas de juros permanecem muito altas. Sem dinheiro na praça, o mercado fica retraído.

Para o presidente da Associação Comercial de São Paulo e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo, Facesp, Guilherme Afif Domingos, uma redução da taxa básica de juros, a Selic, é essencial para a recuperação do varejo e do crescimento econômico. “É preciso levar em consideração não apenas as expectativas do mercado financeiro, mas também a realidade das empresas, que são as responsáveis pela geração de riqueza e empregos”, afirma.

O único empecilho para uma redução imediata da Selic poderia ser a perspectiva de não cumprimento da meta inflacionária. Para 2003, a meta é de 8,5% e, apenas nos quatro primeiros meses do ano, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, IPCA, que é o indicador usado pelo governo para avaliar o cumprimento da meta, já acumula 6,15%.

O presidente da Facesp, porém, não acredita que esses argumentos se justifiquem para a manutenção da situação atual. Para ele, corre-se o risco de “vivermos eternamente sufocados pelos custos financeiros e sem perspectivas de retomar o crescimento”.

Ano perdido – Mesmo que a Selic não seja reduzida, as chances de se alcançar a meta de inflação para este ano são baixíssimas, avaliam analistas. Em contrapartida, com juros mais baixos, o varejo pode começar a se recuperar e movimentar a economia.

Já perdemos o primeiro semestre deste ano, se a Selic não cair urgentemente, poderemos perder o ano todo”, diz o economista Emílio Alfieri, da Associação Comercial de São Paulo, referindo-se aos dados do movimento do varejo nos quatro primeiros meses de 2003. Isso porque as reduções na taxa podem levar até seis meses para ter influência sobre o mercado. Ele acredita que quedas pequenas, mas constantes, já seriam o suficiente para aliviar o mercado e voltar a movimentar a economia.

De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica, Sobeet, e pesquisador da PUC-SP, Antônio Côrrea de Lacerda, a redução constante da Selic a partir deste mês consolidaria o processo de confiança na economia. “As reações no setor financeiro são mais rápidas, o segmento produtivo é mais lento”, diz.

“Com renda reprimida, pela massa salarial achatada, e sem crédito devido aos juros altos, o consumidor não tem como comprar. O resultado é o mercado retraído como mostram os indicadores”, completa Alfieri.