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Varejo não consegue repassar alta da Selic

Guarulhos, 25 de março de 2003

As lojas não conseguiram repassar o aumento no custo do dinheiro para o outro lado do balcão. Com a escalada da inflação, não há uma sobra no orçamento dos consumidores para gastar RS 50 ou R$ 100 por mês com prestações. O comércio, porém, tentará subir os juros na ponta ao longo do segundo trimestre, um período em que, sazonalmente, o consumo é mais aquecido do que no início do ano. Essa “folga” na demanda abre, teoricamente, espaço para uma recomposição das margens.

Mas o comportamento das vendas sugere que a corda já está esticada no limite para os consumidores. Na avaliação de Fabio Silveira, economista, não há espaço na demanda para repassar um aumento nos juros. Ao elevar as taxas, as varejistas também aumentariam o risco da inadimplência, o que iria encarecer ainda mais o custo do crediário, afugentando os consumidores e provocando uma retração maior nas vendas.

“As varejista estão represando o aumento e tentarão transferir as recentes altas na Selic aos poucos”, afirma Antonio Carlos Borges, diretor da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio). Segundo ele, a diferença entre a taxa básica e os juros cobrados na ponta é muito grande. “As empresas conseguem absorver o impacto da Selic durante um período de desaquecimento do consumo, como no primeiro trimestre, e buscarão repassá-la em abril, maio e junho “, afirma .

Depois do Natal, o segundo trimestre é, historicamente, o melhor em vendas para o comércio. O Dia da Mães é visto como uma prévia, um termômetro do que será a temporada de festas. Neste ano, no entanto, o segundo trimestre se inicia com um elevado grau de incerteza em decorrência da Guerra do Iraque e seus possíveis efeitos colaterais, como a alta nos preços do petróleo. “A política monetária restritiva do governo deve continuar”, acredita Borges.

A taxa projetada da Selic para março é de 1,78%, o que representa um aumento 15% sobre novembro, quando ficou em 1,54% ao mês. O custo do dinheiro já atingiu o mais alto patamar desde maio de 1999, logo após a mudança na política para o câmbio flutuante, quando a taxa básica ficou em 2,02% ao mês.

As taxas cobradas no comércio mantiveram-se estáveis, entre 6,65% e 6,66% ao mês entre novembro e janeiro. “Na verdade, os juros no comércio já estavam altos no ano passado”, afirma Silveira.