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Pedidos de empréstimos pelo comércio têm retração

Guarulhos, 26 de novembro de 2002

O comércio tem apresentado resistência a fazer empréstimos. De acordo com dados do Banco Central, o setor teve crescimento de 10,4% no total de financiamentos no período de 12 meses encerrado em setembro – abaixo do crescimento geral, de 12,9% e outros setores, como indústria (15,3%), rural (17,3%) e pessoas físicas (11,3%).

No total, os empréstimos ao comércio somavam R$ 40,5 bilhões em setembro, contra R$ 119 bilhões para o setor industrial e R$ 384,4 bilhões para todo o setor privado.

Negociando com duplicatas

O economista Emílio Alfieri, da Associação Comercial, lembra que entre as causas da retração no crédito está a negociação com clientes e fornecedores. Com isso, diminui a necessidade de buscar empréstimos.

“Na hora de formar seus estoques, tem sido praxe o comerciante negociar e tomar duplicatas, na média, de 90 dias”, afirma o especialista.

Dessa forma, os bancos ficam para situações extremas: “empréstimo bancário só em último caso e tomando linhas de prazo muito curto, de 30 a 60 dias”, afirma.

Para o especialista, o crédito ao comércio está mais restrito também por uma natural restrição do sistema. “Aumentou o (depósito) compulsório no mês passado em 5%, para os depósitos à vista e a prazo, e isso diminuiu a oferta”, recorda. Além disso, os juros aumentaram e podem continuar a subir. “Todos acharam que a primeira alta era pontual, mas agora os bancos devem começar a repassar”, acredita ele.

Para esse economista, “tudo está indicando que o consumidor vai comprar à vista e em pequenos valores”. Dessa forma, “o lojista também não vai precisar de tanto crédito assim”.

Natal mais magro

As festas de final de ano vão estimular pouco os comerciantes a tomarem crédito nos bancos, apesar da necessidade de recompor estoques e de gastos com decoração e financiamento ao consumidor. O motivo é o desaquecimento da economia e a demanda menor por crédito da clientela.

“Ninguém espera um Natal muito melhor do que o do ano passado”, avalia Murad Salomão Saad, vice-presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de São Paulo.

Emilio Alfieri chama a atenção para os últimos números do SCPC e do Usecheque, indicadores do nível de atividade do setor. Ambos apresentam crescimento muito baixo ou mesmo queda, tanto na comparação quinzenal quanto mensal.

Salomão Saad salienta que o problema já começou no inverno mais quente e com vendas abaixo do esperado. “O comerciante ficou com um estoque pesado nas lojas e não gerou caixa”, raciocina ele.

O fenômeno atrasou o ciclo de compras e procura por empréstimo do setor. “Nas melhores épocas, o comerciante se preparava para as festas de final de ano já em setembro”, comenta. “Este ano, o pessoal começou a pedir dinheiro aos bancos agora, em novembro”. O cenário eleitoral também prejudicou a formação de expectativas”, lembra.

Epaminondas Neto