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Eleição influirá no comércio

Guarulhos, 23 de setembro de 2002

Já virou moda atribuir às eleições a responsabilidade pela volatilidade e as incertezas do mercado financeiro. O que pouco tem se falado, embora pareça igualmente relevante, é que o fator eleitoral também vem sendo encarado como indutor de expectativas da chamada economia real, aquela que funciona longe das mesas de câmbio e da gritaria dos pregões nas bolsas. Dependendo do candidato vencedor, o segmento varejista estima que a disposição da população para o consumo no próximo Natal poderá ser maior ou menor.

Embora se abstenha de classificar um ou outro candidato como o preferido pelo comércio – ou potencialmente influente -, o economista Paulo Bruck, coordenador de programas do Instituto Fecomércio, afirma que as expectativas do varejo para o Natal, e conseqüentemente seu potencial gerador de empregos, poderá ganhar uma boa dose de entusiasmo pelo resultado das eleições. Claro que, da mesma forma, a mensagem das urnas poderá ser recebida como uma ducha de água fria pelos comerciantes.

O Indicador da Situação Financeira do Consumidor (ISFC), do Instituto Fecomércio, funciona como uma espécie de termômetro do consumidor. Representado por uma variação de +100 a -100, o índice identificou, em agosto, uma variação positiva em relação a julho, de +27,27 pontos, o que, segundo Bruck, pode ser atribuído a fatores pontuais e sazonais como o início da liberação do saldo do FGTS relativo às perdas com os planos Collor 1 e Verão.

Também pesou, de acordo com Bruck, o início do pagamento do 13º salário para os funcionários públicos. Outro fator que igualmente não pode ser desprezado é a renovação de expectativas por conta da geração de empregos eleitorais. Cada cabo eleitoral ou pessoa contratada para segurar bandeiras ou produzir galhardetes representa um consumidor a mais.

Todos esses fatores, avalia o economista, contribuíram não só para ampliar o consumo no mês, como também para influenciar a percepção quanto ao futuro. Mais confiante e turbinado por essa renda adicional, o consumidor também recorreu a instituições financeiras para tomar crédito, a despeito dos juros altos. A continuidade desse movimento, afirma Bruck, é que depende de diversos fatores, entre os quais o eleitoral.

O problema, segundo o Instituto Fecomércio, é que o alento para o consumidor nos dois últimos meses deverá se converter em maior endividamento e, possivelmente, retração do consumo nos próximos meses. O fator eleição entraria, dessa forma, como um mecanismo capaz de injetar novo ânimo ao comércio e garantir a continuidade dos empregos temporários, para o contingente hoje empregado por causa das eleições.

Ricardo Rego Monteiro