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Investimentos em dólar exige cuidado

Guarulhos, 12 de agosto de 2002

ImagemQuem tem dívidas em dólar ou compromissos futuros na moeda americana (como os planos de uma viagem) costuma considerar os fundos cambiais o destino certo e garantido para o seu dinheiro. Mas, muito cuidado. Antes de proteger o patrimônio em uma aplicação atrelada ao câmbio, é bom saber que existe o risco de ela não refletir exatamente as variações da moeda, sejam elas para cima ou para baixo.

Prova disso é o resultado de julho da indústria de fundos. Enquanto o dólar valorizou-se em 23,05% no mês, no mesmo período, os fundos cambiais renderam apenas 7,73%, três vezes menos que o seu parâmetro de rentabilidade. Mas, por que isso acontece?

Aplicação é considerada de risco, dizem os analistas. Ao contrário do que muita gente pensa, os fundos cambiais não investem em dólar à vista, no chamado dólar comercial, mas sim em operações financeiras que procuram refletir a variação da moeda.

Os fundos podem aplicar recursos em títulos cambiais (que rendem a variação do dólar mais uma taxa de juros), em contratos futuros de dólar (que projetam a cotação da moeda em determinado período) ou em contratos futuros de juros em dólar (o chamado cupom cambial).

Em julho, o nervosismo do mercado fez com que as taxas de juros em dólar disparassem. Com a atualização diária das cotas dos fundos, foi preciso ajustar a cotação de suas carteiras à variação de mercado. Em meio a tanta volatilidade, os contratos de juros em dólar deram prejuízos. E, com isso, no total da carteira, os fundos cambiais renderam bem menos do que o dólar.

Os contratos futuros de dólar (outra operação na qual os fundos cambiais aplicam) também distorções. No auge da turbulência financeira, a pressão maior foi sobre o dólar à vista, porque havia escassez da moeda americana no mercado. Com isso, as cotações do dólar comercial ficaram acima do dólar futuro. E, com isso, a rentabilidade dos fundos cambiais ficou prejudicada.

Francisco Corrêa da Costa, sócio da GAP Asset Management, lembra que, no momento de maior estresse, quando o dólar comercial chegou a R$ 3,60, os contratos futuros com vencimento em setembro ainda eram negociados a R$ 3,30, comprovando a distorção.

– Não há proteção integral do patrimônio em dólares, principalmente no mercado atual, extremamente nervoso por conta das eleições – diz Renato Ramos, diretor de renda fixa do HSBC Asset Management.

Para Alexandre Chaia, professor do Ibmec-SP e sócio da consultoria Risconsult, o problema está na maneira como estes fundos são vendidos no mercado.

– Alguns gestores dão a impressão de que o fundo acompanha apenas a variação cambial, o que cria uma sensação de proteção irreal – diz.

Segundo Costa, da GAP, para se proteger, o investidor deve se informar sobre a política do fundo e ficar atento ao vencimento dos títulos e contratos que integram a sua carteira.

– Quanto mais de curto prazo os vencimentos, maior a proteção para o investidor. Quanto maior o prazo, maior também o risco de que o fundo não reflita a variação do dólar. Títulos de prazo mais longo significam indefinição de cenário por mais tempo e mais oscilação de rentabilidade – esclarece.

Segundo os analistas, também é preciso ter em mente a aplicação em fundos cambiais é considerada de risco, portanto, sujeita a oscilações que tendem a ser diluídas apenas a longo prazo.

– Até que a turbulência passe, quem quiser um fundo aderente ao câmbio deve buscar os que têm títulos de curto prazo. Mas, quanto maior o prazo, maior a chance de retorno a longo prazo. O investidor tem que saber se está disposto a sujeitar-se às oscilações – diz Marcelo Saddi Castro, diretor de renda fixa do BNP Paribas.

Para os investidores que já sofreram com ganhos menores, os analistas recomendam manter o dinheiro aplicado. Segundo eles, quando o mercado ficar mais tranqüilo, as distorções tendem a diminuir, beneficiando os cotistas.

Patricia Eloy