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Nova missão para o cartão de débito

Guarulhos, 22 de julho de 2002

Depois da transferência eletrônica de recursos, que passa a valer a partir de R$ 5 mil no dia 29 (segunda-feira da próxima semana), a próxima inovação é a transferência de recursos no mesmo dia nos pagamentos com cartão de débito. A previsão é de Airton Bottini, da BS/Adm Consultoria, que trabalha com bancos na implantação do novo Sistema de Pagamentos (no qual se inclui a transferência eletrônica).

Segundo ele, o Banco Central incentiva a inovação no cartão de débito, que está sendo negociada entre comerciantes, administradoras de cartão e bancos. “Atualmente, as contas pagas com esse cartão são debitadas na mesma hora do cliente, mas só estão disponíveis na conta do comerciante no dia seguinte. Se a novidade vingar, o dinheiro passa a entrar na conta do lojista no mesmo dia”.

As administradoras de cartão estudam a viabilidade dessa novidade, mas ainda não definiram planos nesse sentido. A Visa Electron, maior do mercado, informa que o assunto entra nas conversas com comerciantes, mas ainda não deslanchou porque envolve detalhes importantes, como preparo do lojista para o novo sistema – que inclui investimentos em informática, por exemplo. A Redecard garante que não há estudos nesse sentido por enquanto.

Airton Bottini lembra, no entanto, que essa é uma tendência irrerversível: “Com a entrada direta dos recursos, o cartão de débito passa a ter importância vital na administração do caixa, já que evita o descasamento entre o recebimento de pequenas quantias e o pagamento de valores maiores a fornecedores”.

Mesmo antes dessa inovação, o uso de cartão de débito tem crescido aos saltos. Segundo Luiz Almeida, vice-presidente de relacionamento com o mercado da Visa, o faturamento com esse produto saltou 60% no primeiro semestre, com volume de R$ 4 bilhões em comparação aos R$ 2,5 bilhões de janeiro-junho do ano passado.

Esses números podem ser ainda mais expressivos se a compensação no mesmo dia for confirmada, prevê Airton Bottini: “No sistema atual, o cartão de débito já é vantajoso porque representa garantia de entrada de dinheiro e o fim da incerteza que o cheque traz. Se houver o crédito automático, a procura vai explodir”.

Ele lembra também que a TecBan, outra participante do mercado, já oferece o crédito automático para cartão de débito, mas com limitação de horário. Com a base preparada e a disposição das administradoras, a implantação da transferência automática poderá ser feita sem dificuldades, assegura.

O peso das taxas

Além do cartão de débito, o Sistema de Pagamentos está tranzendo novas necessidades para os lojistas, como a negociação das taxas cobradas pelos bancos para a transferência de recursos.

Airton Bottini recorda que atualmente os bancos cobram em média 0,025% para uma transação com cheque ou DOC. A transferência eletrônica ainda não tem taxas definidas e é objeto de intensas conversas entre lojistas e instituições financeiras.

“Por enquanto, a faixa de cobrança para essa transferência tem grande variação, de R$ 3 a R$ 15”, afirma Bottini. “Mesmo ficando no valor mais baixo, o peso é grande”.

Ele usa o exemplo de uma transferência de R$ 10 mil para mostrar a importância da definição da taxa: “No sistema atual, o cheque ou o DOC tem uma taxa de R$ 2,50 para esse volume. Nos níveis pretendidos para transferência eletrônica, o custo seria no mínimo 50 centavos a mais”.

Na opinião de Bottini, o valor pode parecer pequeno mas vai pesar no caixa: “O descasamento já representa perdas e, no novo sistema, cada centavo passa a ter peso importante para as contas dos comerciantes”.

Theo Carnier