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Juros mais altos no crediário

Guarulhos, 17 de junho de 2002

As turbulências no mercado financeiro, que já deram prejuízo até a investidores de fundos com perfil conservador, começam agora a afetar o consumidor. As taxas futuras de juros nos negócios interbancários, que influenciam diretamente o crédito de lojas e financeiras, dispararam, saltando de 18,60% no começo do mês para 23,01% sexta-feira passada. É com base nessas taxas que os bancos obtêm recursos para repassar aos consumidores. Ou seja, mesmo sem o Banco Central (BC) ter aumentado os juros básicos da economia, o consumidor pode já estar pagando mais caro no crediário.

Na próxima quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC faz sua reunião mensal para definir a nova taxa básica de juros da economia, a Taxa Selic, hoje em 18,50% ao ano. Devido à forte alta do dólar nos últimos dias ” só este mês, a moeda americana já subiu quase 8%, alta que pode pressionar a inflação ” a maioria dos analistas acredita que o BC não terá espaço para reduzir os juros básicos.

” A tendência é de que o aumento de custos para o consumidor piore, caso o governo tenha que subir a Taxa Selic. E, se as medidas anunciadas na quinta-feira passada para acalmar o mercado não surtirem efeito, é isso que terá que ser feito ” disse o economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC.

Entre as medidas adotas pelo governo na semana passada, uma já pesou sobre o crédito: o aumento de compulsório (quantia que os bancos têm que deixar, obrigatoriamente, junto ao BC) sobre os depósitos a prazo. A decisão tirou R$ 6,5 bilhões de circulação, dinheiro que poderia ir para financiamentos e crediários.

Apesar de alguns economistas temerem uma alta nos juros básicos esta semana, para conter a disparada do dólar, a maioria dos analistas prevê que a Taxa Selic seja mantida nos atuais 18,5%. Ainda assim, só a manutenção dos juros básicos, num contexto de alta das taxas futuras no mercado interbancário, pode interromper uma trajetória de queda nos custos de financiamento.

Desde março, mesmo com a Selic estável em 18,50%, as taxas no crediário vêm caindo paulatinamente. Segundo dados da Anefac, associação que reúne os executivos de finanças do país, a taxa média ao consumidor, que era de 7,92% ao mês em março, caiu para 7,90% em abril e 7,84% no mês passado. O movimento foi atribuído justamente à redução nos juros futuros que, no começo de junho, estavam praticamente iguais a Selic, em 18,60% ao ano nos contratos mais negociados. Mas, agora, as taxas futuras estão em 23,01%, ou seja, mais de quatro pontos percentuais acima da Selic.

” Há quem acredite que o BC vá reduzir a taxa básica esta semana, usando como o argumento o fato de os juros futuros já estarem suficientemente altos. Afinal, as taxas futuras nesse patamar são como um freio no crédito e no nível de atividade econômica ” diz o economista Alexandre Schwartsman, da BBA Corretora. ” Mas, na minha opinião, não dá para cortar os juros agora. No mês passado, o dólar estava a R$ 2,50 e o BC não reduziu a Selic. Hoje, o dólar está a R$ 2,70.

Para o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, a alta dos juros futuros foi resultado de uma forte percepção, no mercado, de que o BC poderia elevar a Selic esta semana. Mas, segundo Mailson, os fatores críticos que costumam ser observados pelo BC não pioraram e, por isso, a Selic não deve ser aumentada.

” Os fundamentos da economia melhoraram. O que muda é a taxa de câmbio, que está se valorizando por razões estritamente ligadas ao processo eleitoral ” disse Mailson, que é consultor da Tendências.