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Varejo negocia para evitar perdas

Guarulhos, 12 de junho de 2002

arteO comércio está usando a criatividade para se adaptar às exigências do Sistema de Pagamentos Brasileiro, principalmente em relação à transferência de dinheiro on-line em tempo real. O piso para essas operações, que passou a ser de R$ 100 mil na segunda-feira, baixará para R$ 5 mil no dia 8 de julho, e o comércio está acelerando as negociações com clientes e fornecedores para evitar que essa novidade traga prejuízos.

No setor de supermercados, a principal novidade é a negociação com os fornecedores para que os pagamentos (na maioria dos casos acima de R$ 5 mil), sejam em D+1 , ou seja, que o cheque emitido pelo supermercado para pagar o fornecedor só seja descontado no dia seguinte.

“A negociação tem sido dura, mas temos que buscar alternativas”, afirma Martinho Paiva Moreira, diretor comercial do D?Avó Supermercados, que tem cinco lojas na Zona Leste de São Paulo e dois hipermercados na região do Alto Tietê.

Ele conta que, a princípio, o fornecedor de supermercado é contrário a “segurar” o cheque por um dia, porque também está na cadeia de recebimentos e pode se sentir prejudicado com a concessão. “Mesmo com muita negociação, há resistência”, constata. “Quando não conseguimos êxito, não há outra alternativa: temos que assumir o custo, por mais elevado que possa ser”.

Pelo lado do consumidor, diz Moreira, os supermercados estão incentivando os clientes a pagarem com dinheiro ou cartão de débito: “Essa operação tem um custo, já que as administradoras cobram em média 3% sobre o valor da transação. Temos também a despesa de R$ 400 para comprar a máquina na qual se passa o cartão. Apesar disso, é mais vantajoso do que receber em D+1 e pagar em D+0”, garante.

No caso de “descasamento” entre o que se paga e o que se recebe, lembra o diretor do D?Avó, o comércio tem o custo de dinheiro que não fica disponível no mesmo dia: “Com os juros elevados, essa perda é muito grande”.

O grande desafio, segundo ele, é administrar o fluxo de caixa: “É uma faca de dois gumes, porque temos que trabalhar com os clientes e com os fornecedores. Mas temos encontrado fórmulas para gerenciar a situação”.

Um peso para as pequenas

Esse quadro se reproduz em muitas pequenas empresas, de acordo com pesquisa do Sebrae sobre o impacto do Sistema de Pagamentos nessas companhias. O levantamento mostrou que 26% do total dessas companhiasfazem pagamentos mensais acima de R$ 5 mil, e só 14% tem recebimentos acima do valor estipulado pelo Banco Central.

“Pode parecer pouco, mas trata-se de um número grande de empresas”, afirma Marco Aurélio Bedê, gerente de pesquisa do Sebrae. “São mais de 260 mil companhias que têm pagamentos mensais acima do piso.”

A pesquisa revelou também que os pagamentos acima de R$ 5 mil mais comuns são a fornecedores (86%), seguidos por aluguel (22%), impostos (14%) e salários (13%). No comércio, o peso dos fornecedores é de 91%.

De acordo com o levantamento, os segmentos do comércio que devem dar mais atenção às inovações, por suas características de receber “picado” e pagar “pesado”, são supermercados, postos de gasolina, veículos e material de construção. Na indústria, a preocupação deve ser maior nos segmentos de frigoríficos, congelados e metalúrgicas e em serviços as áreas mais atingidas são imobiliárias e locadoras de veículos.

Para os empresários desses setores, o Sebrae faz recomendações (v. quadro acima) como negociar a compra de matérias-primas e pagamento de aluguel em parcelas e programação dos pagamentos acima de R$ 5 mil para os dias em que a conta tiver saldo.

Theo Carnier