Notícias

Crédito difícil complica as empresas

Guarulhos, 11 de junho de 2002

O ambiente macroeconômico continua desfavorável ao segmento de crédito. O efeito das altas taxas de juros nas operações de empréstimo voltadas à produção e ao consumo não tem sido nada brando. Para os bancos, a inadimplência elevada funciona como um divisor de águas entre o volume emprestado e a demanda. Pior: o risco de calote, que até bem pouco tempo atrás era visto pelos agentes financeiros como exclusivo das pequenas e médias empresas, além das pessoas físicas, começa a ser estendido às grandes companhias. Ainda há outro problema: “As operações de crédito oferecidas pelos bancos, que deveriam ser direcionadas para a atividade industrial, estão cada vez mais desfocadas de seu objetivo porque muitas instituições financeiras preferem emprestar para o governo”, diz Luiz Lemos Leite, presidente da Associação Nacional de Factoring, Anfac. Segundo Lemos Leite, a restrição ao crédito imobiliza parte da produção industrial do país, afeta o trabalhador e reduz o consumo, engessando as vendas do varejo.

Cautela – Com a torneira do crédito um pouco mais fechada e o preço do dinheiro nas alturas, a procura por empréstimos, no mês de maio, recuou em relação a abril. Os pedidos de dinheiro feitos pelo comércio, pela indústria, pelas pequenas e médias empresas e por pessoas físicas, nos últimos 12 meses, continuaram caindo. “Hoje, não é apenas quem empresta dinheiro que está cauteloso. Quem precisa de crédito também tem preferido ficar longe dos empréstimos”, diz o economista Emílio Alfieri, da Associação Comercial de São Paulo.

Demanda menor – Para Gilberto Rose, da área de Crédito do Sebrae de São Paulo, o crédito passa hoje por um círculo vicioso. “Quem tem para emprestar não libera o dinheiro porque tem medo de calote. E quem precisa não toma emprestado porque não quer pagar os altos juros cobrados.” Com isso, a procura por crédito em 2002 está crescendo menos em relação a anos anteriores, segundo dados do Banco Central. Em abril de 2001 o volume total de dinheiro liberado pelo BC foi de R$ 341,2 milhões. Em abril deste ano foi menor, de R$ 338,8 milhões.

Retração – Apesar de o comércio ter solicitado 1% a mais de dinheiro no mês de abril (R$ 36,1 milhões), comparado a março (R$ 35,7 milhões), no acumulado dos últimos 12 meses a procura caiu de 7,8% para 6,6%. Praticamente todos os demais setores desaceleraram a procura por crédito em maio. A indústria tomou 0,7% menos de empréstimos no mês passado comparado ao mês de abril. Foram R$ 100,3 bilhões em abril e R$ 99,6 bilhões em maio. As pessoas físicas pediram 3,2% a mais de crédito em maio. Mas no acumulado dos últimos 12 meses houve recuo. A variação, que em abril era de 18%, caiu para 17,3% no mês passado.

Em marcha lenta – Hoje, a procura sobe numa velocidade mais reduzida em relação a anos anteriores, quando a variação chegou a 60%. Segundo Emílio Alfieri, as altas taxas de juros, somadas à inadimplência, têm freado o número de pedidos de empréstimos neste ano. A inadimplência, por exemplo, foi responsável pela redução em 0,1% dos pedidos em maio e de 55% nos últimos 12 meses. Além de tomar empréstimos de longo prazo, o setor de habitação está entre os que apresentam maior risco de não pagarem o que devem segundo os bancos. Por isso as instituições financeiras reduziram o volume de dinheiro para esse segmento.

Alternativas – Com um poder de fogo menor, as pequenas e médias empresas são as que mais sofrem com a redução do dinheiro disponível e seu alto preço. A saída é encontrar alternativas mais baratas no mercado. Com uma oferta mais enxuta e cada vez mais cara, as operações de crédito ganharam o apoio de instituições, que começam a vislumbrar o mercado de microcrédito. O Banco do Povo Paulista é um exemplo. Em 13 anos de existência, a instituição, que atua nos empréstimos no setor informal e microempreendimentos, já cedeu créditos de quase R$ 50 milhões. Cerca de 77% desse volume foi para o setor informal.

Mercantil – As operações de factoring são outra opção de conseguir dinheiro para injetar na produção. Esse tipo de operação, que não deve ser confundida com empréstimo, permite à empresa conseguir recursos a um custo menor que os oferecidos pelos bancos. Para o gerente do Sebrae de São Paulo, Gilberto Rose, uma opção para evitar ter de ir ao mercado comprar dinheiro é arrumar a casa. “O empresário deve esgotar todas as possibilidades de liquidez de sua empresa antes de tomar um empréstimo, que está muito caro”, diz.

Roseli Lopes