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Micro e pequena são a saída para o crescimento do País

Guarulhos, 07 de junho de 2002

arteExperiências internacionais comprovam: Se o Brasil quiser voltar a crescer, vai ter que decorar o velho ditado que diz que tamanho não é documento e dar mais atenção às micro e pequenas empresas, que já são 99% das empresas do País. Experiências como a da Itália, com distritos produtivos, levaram micro e pequenas empresas italianas a ocuparem 70% da exportação do País. O Brasil já está experimentando a idéia: em Minas Gerais há uma empresa italiana produzindo móveis através de micro e pequenas brasileiras.

O incentivo municipal é essencial no processo. “Investir em grandes empresas e dar-lhes crédito não significa que vão gerar vagas. Com as pequenas o retorno é certo”, diz o prefeito de Buenos Aires, Aníbal Ibarra.

Massimo D?Alema, ex-primeiro ministro da Itália e atual deputado do partido democrata, concorda: “Os investimentos diretos estrangeiros, dos quais depende o mundo hoje, só têm impacto em uma pequena parte da economia, nas grandes empresas, enquanto o investimento em micro e pequenas atinge toda a economia.”

De acordo com Cuauhtemoc Cárdenas, ex-prefeito da Cidade do México, “faz parte da responsabilidade do governo local atender esse setor, que é o que mais gera empregos”. Sua cidade oferece, além de assistência, crédito estatal através de fundos.

No Brasil, as micro e pequenas são 98,6% do total de empresas e empregam 45,6% dos ocupados. No Estado de São Paulo o setor representa 99% das empresas e gira R$ 68 bilhões, 20% do Produto Interno Bruto.

A experiência italiana

De acordo com Massimo D?Alema, ex-primeiro ministro da Itália e atual deputado do partido democrata, na Itália há muito tempo existe uma forte interação entre o governo local e as micro e pequenas do país. resultado: elas representam cerca de 70% da exportação do país – ante 10% no Brasil – e representam 80% do total de empresas da Itália – ante 98% no Brasil.

D?Alema conta que na Itália organizaram as micro e pequenas em distritos produtivos, grupos de empresas de uma cidade ou província que atuam em um mesmo setor econômico. “Unidas, empresas do mesmo setor conseguem escala de produção e fica mais fácil exportar”, diz.

O governo das províncias ou prefeituras auxilia os distritos atendendo às suas necessidades de infra-estrutura, como estradas e eletricidade. A segunda etapa do processo é conceder crédito estatal, oriundo da província ou da região e gerenciado pelos bancos estatais locais. A terceira fase é a exportação. “O governo da região e de Roma devem ajudar o distrito a participar de feiras, encontros com empresários de outros países, entre outras medidas para promover os produtos italianos”, explica o deputado.

E a Itália já avistou – e está aproveitando – o potencial das micro e pequenas brasileiras. Ele conta que há uma empresa italiana chamada Snaidero que veio ao Brasil para fabricar móveis de cozinha e usou o mesmo modelo dos distritos italianos. “Ela abriu uma filial em Minas Gerais, mas terceiriza a produção com pequenas empresas mineiras, e exporta para os Estados Unidos”.

Outra oportunidade para empresas e municípios é o “gemmelaggio”, uma espécie de acordo entre “cidades-irmãs”.

Segundo D?Alema, esse vínculo se dá entre cidades do País que possuem muitos imigrantes ou descendentes de alguma cidade da Itália ou que têm interesses econômicos em comum. Sendo irmãs, as cidades trocam informações sobre tecnologia e fazem negócios. “O prefeito procura a câmara de comercio ou o consulado para saber de qual cidade a sua é irmã na Itália”.

Vale ressaltar que a experiência italiana é considerada não-fordista, mais adequada à globalização, onde o mercado é aberto e imprevisível, não controlado totalmente por oligopólios. O modelo também possibilita que os participantes do distrito não precisem de grandes capitais para desenvolver seus negócios e que as inovações sejam absorvidas mais rapidamente pelo grupo do que por uma empresa isolada.

O Brasil, no entanto, segue outro modelo, o fordista, oriundo do próprio processo de industrialização feito no País.

Priscilla Negrão / André Lachini