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Dólar em alta mexe no bolso de todo mundo

Guarulhos, 07 de junho de 2002

arteO nervosismo no mercado financeiro pode mudar as previsões otimistas sobre o futuro dos juros. Atualmente, a taxa de juros básica, a Selic, é de 18,5% ao ano e está entre as maiores do mundo. Há a expectativa de que possa haver um corte de até dois pontos percentuais até outubro, quando ocorrem as eleições. Apesar disso, o Comitê de Política Monetária (Copom), que decide a Selic, pode ser influenciado pela situação do mercado e adotar uma postura conservadora, mantendo o valor atual.

A redução dos juros é vista pelos analistas como essencial para que a economia brasileira possa crescer no segundo semestre. “O problema do crescimento econômico é sério e se reflete no aumento do desemprego e da violência”, alerta o economista Claudemir Galvani, professor da PUC. Como a Selic guia os juros praticados no mercado, quando ela se mantém alta o crédito para a produção e consumo são mais caros e escassos.

A conseqüência disso é uma paralisação do setor produtivo. A previsão de crescimento da economia brasileira neste ano é próxima a 2%. Para os especialistas na área, é pouco para segurar o crescimento do desemprego e a queda na renda da população.

Com a economia fria, há pouco espaço para reajustes de preços, ou seja, a inflação deve se manter sob controle. Apenas uma disparada elevada do dólar por um período longo poderia pressionar os índices inflacionários. “Só o governo tem mantido aumentos em preços que sepervisiona”, lembra Galvani.

Mercado espera reação do BC

Na quarta-feira, o BC tentou acalmar os investidores através de uma operação de troca de títulos de longo prazo para outros com vencimento no início do ano que vem. A ação não foi suficiente para impedir a tensão de ontem, que causou a desvalorização dos papéis do governo, a subida do dólar e a escalada do risco-Brasil. “O mercado está muito nervoso, fora do que deveria ser”, afirma Guilherme da Nóbrega, economista-chefe do Banco Fibra.

O BC não tem muitas opções, segundo o economista, para conter as oscilações do momento. Mas um posicionamento mais agressivo nas negociações poderia reduzir a instabilidade. “O BC vai continuar apagando incêndios, mas não pode permitir muitas folgas no mercado”, completa.

Vários fatores têm influenciado os investidores, entre eles as eleições, o tamanho da dívida brasileira e algumas decisões truncadas do BC. Para alguns analistas, as dúvidas que surgiram em decorrência das eleições são o principal fator para a perda de credibilidade da economia brasileira.

“Acho que a raiz da instabilidade é política, por mais que os discursos dos candidatos sejam moderados. Os investidores têm dúvidas de que isso será mantido na prática”, explica Nóbrega. Com a insegurança, surgem especulações que fazem cair os títulos brasileiros e forçam a subida do dólar.

O economista-chefe do Sul América Investimentos, Luís Carlos da Costa Rego, lembra que um dos motivos para que bancos estrangeiros rebaixassem a recomendação de investimento no Brasil foi a subida do candidato da oposição nas pesquisas eleitorais. “Parece que o mercado está esperando uma reação do candidato do governo”, revela.

Somente as eleições não explicam o movimento de desconfiança dos investidores. “O País tem uma dívida significativa e o governo depende da rolagem. O mercado aproveita para especular sobre isso”, afirma Galvani. Por isso, o risco-país não reflete a situação real da economia brasileira, sendo inflado pela tentativa de se obter um ganho maior com a necessidade do governo.

Decisões do BC também influenciaram os resultados do mercado financeiro nos últimos dias. Vários economistas interpretaram a operação de mudança nos fundos de investimentos como um erro. Depois disso, os títulos do governo perderam valor o que levantou dúvidas sobre a capacidade do governo rolar as dívidas.