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Turbulência: BC não tem muito o que fazer

Guarulhos, 07 de junho de 2002

O Banco Central não tem muita margem de manobra para acalmar os mercados e evitar a corrida por dólar, que fez a moeda americana encerrar cotada a R$ 2,66 nesta quinta-feira – alta de 5,72% em apenas quatro dias úteis e novo recorde do ano. Na avaliação de economistas, resta ao BC a opção de sacar parte das reservas para ofertar dólares ao mercado, numa ação considerada limitada.

O estresse do mercado financeiro é atribuído, por unanimidade, ao processo eleitoral, cujas pesquisas de intenção de voto dão ao pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, grande oportunidade de vitória nas urnas.

– Até as eleições o BC não tem muita alternativa. Nada mudou nos fundamentos da economia nos últimos 15 dias. O perfil da dívida pública é declinante e perfeitamente manejável, principalmente se o próximo governo fizer a reforma fiscal – diz o economista-chefe da Sul América Investimentos, Luiz Carlos Costa Rego, acrescentando que outra possibilidade que ainda resta à autoridade monetária é anunciar a compra de C-Bonds.

Costa Rego explica que a chance de Lula ganhar as eleições tumultua o mercado porque há muita diferença entre o que dizem os representantes do partido e o que está escrito na proposta de governo disponível no site do PT, que fala em ruptura.

O economista Danny Rappaport, da consultoria Tendências, porém, acredita que é hora de o BC ficar quieto. Na avaliação dele, o país não tem reservas suficientes para forçar a redução da cotação do dólar. Segundo ele, o BC erra ao trocar os vencimentos das Letras Financeiras do Tesouro (LFT) e concentrar os vencimentos para o primeiro semestre do ano que vem – justamente o período inicial do novo governo.

O deputado Delfim Netto (PPB) culpa o próprio governo pela inquietação do mercado financeiro. Segundo ele, o governo fez política com “coisa séria” ao dizer ao mercado que se o PT ganhar as eleições poderá não honrar o pagamento da dívida.

Delfim diz que o BC está agindo certo ao atender às exigências do mercado, que quer aplicar em títulos com vencimento em curto prazo.

– Essa troca de Letras Financeiras do Tesouro não é um desejo do Banco Central, nem uma política. É uma medida defensiva para tentar acalmar o mercado – diz.

O deputado ressalta, no entanto, que o mercado financeiro só tem esse poder de interferir no processo eleitoral porque o atual governo deu a ele esse poder:

– A idéia de que o mercado financeiro pode determinar o rumo de um país é um equívoco. O governo deu ao mercado esse poder ao promover uma concentração bancária da qual vai se arrepender. Essa concentração foi uma política deliberada e tem suas conseqüências.

Para Delfim, a dependência do país em relação aos bancos é um problema sério que o novo presidente terá de enfrentar, qualquer que seja o candidato vencedor.