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BC diz que agiu para proteger o pequeno investidor

Guarulhos, 05 de junho de 2002

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, afirmou ontem que o intuito da antecipação da marcação a mercado dos fundos de renda fixa foi proteger pequenos investidores, em vista da desvalorização das cotas dos fundos causada pela depreciação dos títulos de prazo mais longo, que eles tinham em suas carteiras. Fraga participou de uma audiência pública na Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a aplicação de recursos da CPMF na Câmara dos Deputados. “Agora estamos vivendo um momento de extremo pessimismo em relação ao futuro, que se espelha nas taxas de juros das aplicações mais longas”, disse Fraga.

Antecipação – Como os fundos não estavam fazendo a transição para a marcação a mercado de forma homogênea, os grandes investidores, que tinham mais acesso às informações sobre as mudanças, estavam saindo dos fundos que não haviam implementado as regras. “A cota de quem ia ficando (no fundo), valeria cada vez menos. Por isto (a antecipação da mudança das regras) teve que ser rápida, se não haveria uma corrida de saques”, explicou. “Fizemos isso para proteger o pequeno (investidor) porque o grande ia sacar e o pequeno ia perder”, completou Fraga. “Quando foi detectado o problema, a solução teve que ser rápida. Se déssemos três dias para que essa adaptação fosse feita haveria uma corrida de saques aos fundos”, disse Fraga. O presidente do BC disse ainda que, dado o momento de grande volatilidade no mercado financeiro, está havendo nervosismo sobre as novas regras, mas com o tempo a situação vai voltar à normalidade.

Fundamentos – “A minha visão é que o que existe hoje como base para o funcionamento da nossa economia é bom, responsável, razoável, e não acredito que possa ser objeto de descaso de nenhum candidato (à presidência).” Fraga acrescentou que os mercados devem se acalmar à medida que os candidatos tenham chance de expor suas idéias e mostrar que não pretendem colocar a estabilidade em risco. “O debate político vai minimizar o temor.” “As contas estão bem e na minha opinião vão seguir bem”, frisou Fraga um pouco antes de a agência de classificação de risco Moody's divulgar seu relatório revisando a perspectiva de r isco do Brasil de positiva para estável.

Juro básico – Na avaliação de Fraga, a decisão tomada no mês passado, de manter as taxas de juros em 18,5% ao ano, foi um “ingrediente de terceira ordem” para o nervosismo do mercado, que muitos têm atribuído em parte às pesquisas de opinião sobre a eleição presidencial. Nos últimos dias, o mercado também está atribuindo o nervosismo às mudanças nas regras de contabilização dos fundos de investimento, que levaram perdas em algumas carteiras. O prazo de ajuste das carteiras dos fundos referenciados DI, que inicialmente iria até setembro e foi anunciado em fevereiro, deu chance para que os investidores mais atentos saíssem das carteiras com cotas sobrevalorizadas, prejudicando os que permaneceram com recursos nos fundos. Esta é a opinião do ex-diretor do BC e sócio da MCM Consultores, José Júlio Senna.

Quem ganhou – “O prazo não foi uma boa idéia. Os investidores foram tratados de forma heterogênea. Ganhou quem estava informado e perdeu quem não percebeu o problema”, declara. A mesma opinião tem o diretor do Credit Suisse Asset Management, Mauro Bergstein. Segundo ele, o tempo transcorrido entre o anúncio de fevereiro até a última sexta-feira permitiu a transferência de perdas dos investidores que saíram para os que ficaram nos fundos, uma vez que os juros estavam subindo. Se os juros estivessem caindo, o ganho ficaria com os investidores que ficassem nos fundos.