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JP Morgan recomenda saída de investidores estrangeiros do Brasil

Guarulhos, 04 de junho de 2002

Depois do Morgan Stanley, do Goldman Sachs e da Merrill Lynch, o banco de investimentos norte-americano JP Morgan rebaixou nesta segunda-feira sua recomendação de investimentos do Brasil de “ligeiramente acima do mercado” (modest overweight) para “média do mercado” (market neutral). A justificativa, mais uma vez, foram os riscos políticos associados a uma vitória do PT nas eleições presidenciais em outubro.

– Nossa preocupação cresce com as implicações do resultado eleitoral sobre o curso da política econômica. – afirma o relatório, assinado pelo analista de mercados emergentes Carlos Asilis.

Serra com poucas chances – No documento, o banco afirma estar surpreso com o índice de apoio e a baixa rejeição à Luís Inácio da Silva nas últimas pesquisas. O candidato governista, por sua vez, é visto com poucas chances no pleito.

– Há pouca possibilidade de redução no índice de miséria do país (soma da inflação e do desemprego, segundo os critérios do banco), o que torna difícil criar um fato novo que impulsione uma subida de Serra nas próximas pesquisas – diz o relatório.

Para Asilis, nem um possível corte de juros pelo Banco Central, nem a propaganda eleitoral gratuita farão o governista decolar.

– Uma queda nos juros ou a propaganda na TV com certeza podem ajudar, mas não vemos isso como algo que possa mudar o curso dos eventos. Somado ao anêmico desempenho tucano nas pesquisas, o banco americano aponta outros fatores que contribuem para a mudança no grau de investimento, como a perspectiva de redução no investimento estrangeiro direto e o perfil da dívida brasileira, de curto prazo e atrelada ao dólar ou a taxas flutuantes.

Para o economista da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ), Antônio Porto Gonçalves, o rebaixamento do grau de investimento brasileiro por mais um banco americano é só um sinal de que o risco Brasil está subindo.

– O deságio nos títulos dos fundos de renda fixa, que perderam 1% na última sexta-feira, mostra que o mercado começa a se perguntar se esses títulos serão pagos.

Para o professor, uma moratória – especialmente decretada por motivos políticos – é extremamente prejudicial.

– Você reduz os juros da dívida passada, mas os juros de financiamentos futuros sobem muito e com efeitos duradouros – diz – Ainda vai levar uns dez anos para se dissiparem os efeitos da moratória de 1982.

Já Regina Nunes, presidente da agência classificadora de riscos Standard & Poor's faz elogios à política econômica do governo e diz que o papel das agências não é interferir no processo eleitoral.

– Nós apenas analisamos o risco de crédito. Não é uma análise de banco, que tem um horizonte de curtíssimo prazo. E sabemos que embora o presidente seja importante, em uma democracia, as coisas não dependem só dele, mas também do Congresso, do Senado, da equipe econômica, da sociedade. – pondera.

Carlos Vasconcellos