Notícias

Exportação avança, mas tem restrições

Guarulhos, 01 de abril de 2002

Apesar das vendas do Brasil para a Argentina terem caído quase 70% neste primeiro trimestre, balança comercial brasileira (exportações menos importações) conseguiu obter um saldo positivo (superávit) de US$ 910 milhões. Com isso, conseguiu uma posição privilegiada em relação ao primeiro trimestre do ano passado, quando o País registrou um déficit de US$ 479 milhões. Para especialistas o resultado do primeiro trimestre mostra que “as coisas estão caminhando positivamente”, mas ainda não é hora de comemorar. Motivo, apesar de sinais de retomada da economia norte-americana, o Brasil deverá enfrentar, este ano, muitas restrições externas às suas exportações não apenas no aço – barreiras dos EUA e União Européia – mas prosseguirão as barreiras aos nossos produtos agrícolas, que têm ajudado o desempenho da balança. Além disso, o desempenho das exportações não se deve apenas ao câmbio favorável, mas sobretudo, à queda das importações.

Maurice Costin, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex), da Fiesp, destaca a brusca queda nas importações de máquinas e equipamentos, causada, especialmente, pela desaceleração ao paralisação de vários programas de investimento nas empresas. Essa tendência ficou evidente nos meses seguintes à crise energética, em meados de 2001. Felizmente, segundo Costin, já é possível notar a retomada lenta e gradativa de alguns projetos, cujas novas máquinas e equipamentos deverão ser supridas pela própria indústria brasileira. “Não há dúvida que está havendo um processo de substituição de importações”, disse. Este fato, por si só, poderá ajudar um pouco o desempenho interno da economia, auxiliada pelo agronegócio.

Bom tamanho – Maurice Costin acha que estamos indo num bom caminho, capaz de levar a balança comercial de 2002 a marcar um superávit não de US$ 6 bilhões, como alardeia o governo, “mas chegar perto dos US$ 5 bilhões.” Essa cifra é considerada otimista por Michel Alaby, presidente-executivo da Associação Brasileira para a Integração do Mercosul (Adebim). Para ele, falar em US$ 3,5 bilhões “já está de bom tamanho.” Alaby se explica: “Ainda enfrentaremos este ano problemas com a instabilidade do câmbio, com do aço, além da velha questão agrícola.” Ele recorda que as perdas externa do Brasil com a crise argentina foram compensada, além da queda nas importações, pelas ampliações das vendas para outros mercados para o Oriente, Rússia, Índia e China. Houve ganhos também no mercado norte-americano e no europeu. No entanto, Alaby diz que algumas “conquistas externas” estão ameaçadas. Por exemplo, o Oriente Médio deverá abrir seu mercado para a carne européia. “E o Brasil vende US$ 300 milhões lá”, alerta Alaby. A saída é agilizar os acordos que o Brasil e o Mercosul estão encaminhando com a África do Sul, México e Chile. “Não podemos adiar mais”, afirma Michel Alaby.

Sergio Leopoldo Rodrigues