Notícias

Mais crédito a menor custo, só no 2° semestre

Guarulhos, 28 de março de 2002

A tendência de queda do juro básico da economia traz à tona a discussão sobre a retomada da expansão do crédito no Brasil. No ano passado, o total de recursos liberados pelo sistema financeiro ao setor privado somou pouco mais de R$ 330 bilhões, o equivalente a 30% do Produto Interno Bruto (PIB). O volume é baixo, se comparado a países como os Estados Unidos em que essa relação chega perto de 100% do PIB. Um salto maior nessa relação, no Brasil, no entendimento de analistas do mercado, ainda depende de reduções fortes da taxa básica de juros da economia, a Selic. Depende também do aumento da renda do trabalhador, para que não haja expansão do crédito junto com expansão da inadimplência.

Em janeiro último, a inadimplência nas operações de crédito no sistema financeiro, de acordo com dados do Banco Central, subiu para 14,6% do total emprestado e atingiu 14,9% em fevereiro. “A comparação entre a expansão do crédito no Brasil e outros países é complicada, porque no Brasil a renda média do trabalhador gira perto de R$ 600, enquanto nos Estados Unidos ultrapassa R$ 3 mil”, diz o economista Emílio Alfieri, da Associação Comercial de São Paulo. Para ele, este ano não deve ser muito diferente do que foi 2001, com relação à liberação de crédito, até porque a renda do brasileiro apresentou queda de 4%. “Não devemos contar com um grande crescimento, porque a situação hoje está até mais difícil do que no início de 2001”, diz. Alfieri acredita que antes de mais nada é necessário retornar ao mesmo cenário de janeiro de 2001, quando a taxa básica, a Selic estava em 15,25% ao ano e não havia cobrança de compulsório dos bancos, de 10% sobre os depósitos a prazo.

Segundo semestre – Os analistas concordam, porém, que empresas e consumidores começarão a perceber um aumento na oferta de crédito nos bancos a partir do segundo semestre do ano. “No ano passado houve um gradual aperto da política monetária, que resultou em aumento dos juros e compulsórios cobrados dos bancos. Isso levou a um encurtamento dos prazo e também a um aumento da inadimplência”, diz Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC. O analista aguarda uma gradual reversão desse quadro, com reduções mais fortes da taxa Selic no decorrer do ano. Segundo Bassoli só a partir do segundo semestre é que o crédito deverá começar a ficar mais barato na ponta e, em contrapartida, os prazos deverão para o pagamento da dívida deverão ser alongados.

Hoje, uma linha de capital de giro tem custo de até 5,80% ao mês, com prazo para liquidação de 90 dias. O consultor da área financeira, Carlos Daniel Coradi, presidente da EFC Engenheiros Financeiros e Consultores, também aguarda uma retomada na concessão de crédito, mas muito pequena sobre o volume do ano passado. Coradi discorda, no entanto, que as reduções dos juros feitas pelo Banco Central este ano serão capazes de baixar no curto prazo as taxas praticadas na ponta. “As taxas são ainda muito altas. Mesmo que elas caiam para 16,5% esse ano ainda assim permanecerão em um patamar muito elevado”, diz.

BC – O Banco Central iniciou uma trajetória de redução da taxa Selic em fevereiro. De lá para cá a taxa já foi reduzida de 19% anuais para 18,5% ao ano. Também vem adotando um discurso de que os depósitos compulsórios são prejudiciais ao crescimento do País, mas necessários, como instrumentos de política monetária em épocas de crise. O discurso, no entendimento do mercado, pode ser a sinalização de redução dos compulsórios ou até mesmo extinção no caso da cobrança sobre depósitos a prazo, como ocorreu em 1999. “Mesmo que ele (o Banco Central) não possa tirar o compulsório sobre os depósitos a prazo agora poderia ao menos iniciar uma tendência de redução, como fez com a Selic, baixando de 10% para 8% a alíquota”, ressalta o economista Emílio Alfieri, da Associação Comercial de São Paulo.

Adriana Gavaça