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Celso Daniel foi torturado antes de ser executado

Guarulhos, 23 de janeiro de 2002

O laudo do Instituto Médico Legal (IML), recebido pela Polícia Técnica-Científica do Estado, vai confirmar o que líderes petistas que acompanharam a necropsia e o reconhecimento do corpo do prefeito de Santo André, Celso Daniel, já sabiam: ele foi torturado antes de morrer. O corpo mostra sinais de ter sido brutalmente espancado, e apresenta várias fraturas, que desfiguraram o rosto do prefeito.

A notícia da tortura, nos moldes das praticadas no período da ditadura militar, chocou os líderes petistas, que fizeram um pacto de não divulgar imediatamente o fato para não atrapalhar as investigações policiais.

Os petistas, que dificilmente vão admitir o fato publicamente, trabalham com a hipótese de que o crime contra Celso Daniel tenha sido um recado ao presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, que escolheu o prefeito de Santo André para coordenar seu programa de governo.

O acordo para abafar a tortura teria sido tomado em troca de uma promessa da cúpula da Polícia Militar e Civil do Estado de resolver o caso em um mês, antes da conclusão do laudo do IML.

Os deputados estaduais Renato Simões (PT) e Jamil Murad (PC do B), além do deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT), estiveram no IML acompanhando a necropsia e até o momento não comentaram o assunto. Os médicos legistas também vão apontar nove tiros de pistola 9 mm no corpo do prefeito, a maior parte deles disparado a meio metro no rosto do prefeito.

A tortura de Celso Daniel foi confirmada ao JT por integrantes da cúpula da polícia e por líderes petistas, que chocados evitavam transmitir o clima de terror entre os companheiros de partidos.

“A morte do Celso desencadeou uma verdadeira paranóia entre os dirigentes do partido. Muitos falam em uma lista com 50 nomes, que envolveria até secretários municipais e presidentes e diretores de autarquias”, afirmou um petista, que esteve na estrada de Juquitiba (SP), local onde foi encontrado o corpo do prefeito.

A paranóia entre os petistas, mesmo com a preocupação de não tornar pública a notícia da tortura de Celso Daniel, já teria chegado aos principais cardeais do partido e até a integrantes de escalões intermediários de administrações petistas.

“Ninguém está mais seguro. A morte do Toninho (Antonio Carlos da Silva, prefeito de Campinas) foi encarado como um crime suspeito, que até poderia ter sido um assalto. Mas, após o Celso Daniel, temos certeza de que existe um grupo organizado querendo desestabilizar o Partido dos Trabalhadores, matando nossos principais dirigentes e figuras em ascensão dentro da cúpula”, afirma um dos dirigentes do PT.

Petistas acreditam em recado para Lula

A ousadia da ação dos sequestradores, que abordaram a Pajero do empresário Sérgio Gomes da Silva, ex-assessor do prefeito, sem nenhum tipo de cobertura nos rostos e não fizeram nenhum contato para resgaste são alguns dos argumentos dos petistas para trabalharem com a hipótese de que o crime seja um recado para desestimular a candidatura de Lula ao Palácio do Planalto.

Em seu discurso, no velório do prefeito, Lula afirmou que “o crime não foi um incidente e creio que há gente grossa envolvida na execução.”