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Onda de atentados deixa 28 mortos em 12 horas.

Guarulhos, 03 de dezembro de 2001

ImagemHAIFA, Israel – Prosseguindo a onda de ataques suicidas, um palestino detonou ontem uma bomba que levava presa ao corpo em um ônibus na cidade israelense de Haifa, matando a si mesmo e outras 15 pessoas, horas depois de três atentados a bomba em Jerusalém, dois deles suicidas.

A nova onda de violência no fim de semana deixou 28 mortos e mais de 200 feridos em um intervalo de 12 horas. O grupo islâmico Hamas, que havia prometido vingar o assassinato no dia 23 de Mahmud Abu Hannoud, um dos principais líderes do movimento, assumiu a responsabilidade pelos atentados em Jerusalém e Haifa e advertiu que conta com camicases dispostos a morrer “por outros 20 anos”.

Como resposta ao “assassinato seletivo” – expressão usada para esse tipo de ataque – de Hannud por mísseis israelenses, as brigadas Ezzedin Al-Qassam haviam anunciado em um comunicado que “o inimigo pagará o preço de seus crimes contra nossos combatentes”.

Funcionários israelenses apontaram o líder palestino, Yasser Arafat, como responsável pelos ataques, por nada fazer para controlar os radicais. A Autoridade Palestina decretou ontem o estado de emergência nas áreas sob seu controle – Cisjordânia e Faixa de Gaza – e indicou que os grupos radicais devem ser considerados fora-da-lei. A medida estabelece que todos os palestinos estão proibidos de portar armas, exceto a polícia.

Ao mesmo tempo, o Exército israelense decretou um bloqueio total dos territórios palestinos, impedindo seus moradores de abandonar os povoados. Israel já havia imposto um forte bloqueio militar na Cisjordânia e Gaza desde o início de levante palestino (intifada) em setembro de 2000.

O atentado de ontem ocorreu aproximadamente ao meio-dia local (8 horas de Brasília). O suicida entrou no ônibus no centro de Haifa, pagou ao motorista, Shimon Kabesa, com uma nota de alto valor e não esperou o troco. O motorista, nervoso ao lembrar que o mesmo havia ocorrido quinta-feira antes de um suicida cometer um atentado em Israel, chamou o passageiro de volta. Foi nesse instante que o terrorista detonou a bomba.

Kabesa foi atingido nas costas pelos pregos e fragmentos de metal, colocados dentro da bomba para causar mais danos às pessoas. Além dos 15 mortos, o ataque deixou 40 feridos, vários em estado crítico.

Judeus e árabes sentavam-se lado a lado no ônibus no momento do ataque. Na cidade portuária de Haifa, norte de Israel, árabes e judeus convivem amigavelmente. “Retirei quatro pessoas do ônibus. Homens e mulheres, árabes e israelenses”, contou Faisal Adnan, um árabe israelense que esperava para atravessar a estrada quando ocorreu a explosão.

Adnan disse que a estrada ficou repleta de “pedaços de braços, pernas e órgãos internos” que voaram do ônibus vermelho e branco da cooperativa israelense Egged, que há muito tempo tem sido alvo de ataques suicidas. “Não está escrito em nenhum livro sagrado que se deve explodir as pessoas”, disse Adnan, de 26 anos. “Estou envergonhado pelos palestinos que têm cometido esses atos horrendos”, disse.

Um segundo ônibus que passava também foi danificado pela explosão, que ocorreu 12 horas depois de um atentado suicida duplo e um ataque com um carro-bomba no sábado em Jerusalém, que matou 12 pessoas – entre elas os terroristas – e feriu mais de 150, a maioria adolescentes. O número de mortos deve aumentar, pois mais de 20 pessoas estão em estado crítico.

Os atacantes, a cerca de 40 metros de distância um do outro, detonaram duas bombas na zona comercial da Rua Ben Yahuda. Eram cerca de 23h30 de sábado e a rua estava repleta de jovens que iam a bares, restaurantes ou simplesmente passeavam sob a lua cheia.

“Ouvi dois ?bum? em um segundo, pensei que fosse um trovão ou algo assim”, disse Avraham Sackton, um estudante de 18 anos que estava com alguns amigos em uma pizzaria. “Então eu vi as pessoas voando pelos ares.” As bombas, cheias de pregos e fragmentos de metal, tiveram um efeito devastador, deixando membros e muito sangue sobre a calçada. Cerca de 20 minutos após as explosões, enquanto as ambulâncias lutavam para cruzar o tráfego, um carro-bomba explodiu uma quadra adiante, mas sem ferir ninguém.

Antes dos atentados suicidas de sábado, soldados israelenses mataram dois palestinos na Cisjordânia. Um foi um menino de 11 anos, morto quando tropas e tanques israelenses entraram na cidade de Jenin e cercaram a cidade de Nablus. A nova invasão do território controlado pela AP ocorreu após o atentado suididade de quinta-feira, que matou três israelenses.

Segundo palestinos, o menino, Muhammad Shahlah, foi morto a tiros quando atirava pedras contra um tanque israelense. O outro palestino, Rami Asous, de 18 anos, foi morto dentro de um carro quando um tanque abriu fogo contra vários veículos na estrada principal.

Ainda ontem, cinco palestinos foram mortos durante troca de tiros com soldados israelenses na Faixa de Gaza. Um deles era um jovem membro do movimento Al Fatah, dirigido por Arafat. (Reuters, Associated Press e France Presse).